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Alagoas

Padre acusado de pedofilia é preso em Arapiraca

Monsenhor Raimundo Gomes, Monsenhor Luís Marques e Padre Edilson Duarte

O monsenhor Luiz Marques Barbosa, 83, foi preso em Arapiraca após depor perante membros da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga denúncias de pedofilia. O escândalo envolve pelo menos mais quatro membros da Igreja Católica em Alagoas, dois deles com passagem por Penedo, o padre Edílson Duarte e o monsenhor Raimundo Gomes.

Presidida pelo senador Magno Malta (PR), a CPI da Pedofilia ouviu durante este final os envolvidos no caso de abuso sexual e pedofilia em Arapiraca, foco do noticiário sobre o assunto que já chegou ao Vaticano. Flagrado mantendo relações sexuais com um ex-coroinha em vídeo amplamente divulgado, o monsenhor Luiz Marques recebeu voz de prisão ontem, 18.

Militar e ex-capelão da corporação, o religioso homossexual tem direito à prisão especial e foi transferido para o quartel do Corpo de Bombeiros de Arapiraca. Já o padre Edilson Duarte, ex-pároco de São Francisco de Assis – padroeiro do bairro Dom Constantino Lüers, em Penedo – não foi detido de imediato por ter aceitado o benefício da delação premiada. Ele se comprometeu em colaborar para desvendar todo o esquema de abusos sexuais que, segundo Edílson, envolve muito mais padres.

“SOU MESMO HOMOSSEXUAL”

Declarações chocantes marcaram os três dias em que a CPI esteve em Alagoas. Os trabalhos começaram na sexta, quando o padre Edilson Duarte declarou ser homossexual e confirmou seu envolvimento com três menores. “Eu não posso mentir, sou mesmo homossexual e fiz sexo com o Flavio e com o Fabiano quando os dois tinham 16 anos de idade”, disse o padre para espanto da platéia, inclusive de dois irmãos seus, que são militares e que imediatamente se retiraram do local ao ouvir a revelação.

No sábado, o principal ponto da audiência do monsenhor Raimundo Gomes foram suas negativas quanto às acusações. Em seguida, o monsenhor Luiz Marques depôs. Apesar de admitir ser ele no vídeo que desencadeou todo o escândalo, ele afirmou que era a primeira vez que mantinha relações com um ex-coroinha.

No domingo, as atividades da CPI foram retomadas com nova convocação do monsenhor Raimundo Gomes. Ele manteve o discurso de que tudo não passava de uma armação de uma pessoa ligada à igreja, identificada como Carmelita, causando revolta nos presentes ao Fórum de Arapiraca. As divergências surgiram com o depoimento do ex-coroinha Anderson, que confirmou a denúncia na frente do acusado, afirmando que foi abusado desde os 12 anos. O monsenhor Raimundo continuou negando e foi preciso ouvir novamente o padre Edilson Duarte, que confirmou todas as acusações de Anderson. Monsenhor Raimundo irritou-se e chamou Edílson de “aloprado”.

Com o fim do depoimento do monsenhor Raimundo, Luiz Marques foi ouvido novamente pelo presidente da CPI, tendo sua versão confrontada com a do padre Edilson, que voltou a afirmar que os monsenhores também mantinham relações sexuais com ex-coroinhas. Quando questionado sobre a participação do padre Edilson no escândalo sexual, o monsenhor Luiz afirmou saber que o padre Edilson mantinha relações com menores.

DOM VALÉRIO SABIA

O monsenhor Luiz Marques Barbosa declarou que chegou a avisar ao bispo Dom Valério Breda sobre o comportamento do padre Edílson Duarte. O testemunho confronta nota oficial da Diocese de Penedo, documento no qual o Dom Valério Breda informa só ter conhecimento das denúncias a partir de sua divulgação no programa Conexão Repórter (SBT). Sob comando do experiente Roberto Cabrini, que esteve em Penedo, o programa pôs o assunto em pauta na mídia e tentou ouvir do bispo diocesano declarações sobre o assunto, mas não foi atendido por Dom Valério Breda.

Ao final da audiência neste domingo, a CPI pediu a prisão do monsenhor Luiz Marques, por pedofilia, e de dois funcionários do sacerdote, acusados de falso testemunho. O senador Magno Malta acrescentou que a prisão do Monsenhor Raimundo não está descartada.

“ABRA O OLHO, MONSENHOR RAIMUNDO”

“O Ministério Público não achou ainda provas suficientes para requisitar a prisão do Monsenhor Raimundo, mas acho bom ele abrir o olho, pois estamos indo para Brasília junto com o padre Edilson que deverá contar o resto do esquema”, alertou o senador que preside a CPI.

Os ex-coroinhas e seus pais estão sob a proteção da Policia Militar para evitar possíveis represálias. O escândalo desperta revolta entre os que apóiam os denunciantes na mesma proporção em que causa reações contrárias. As supostas vítimas também são vistas como interessadas apenas em tirar dividendo financeiro do tema que abalou a Igreja Católica em Alagoas.