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Os valores empresariais

Um assunto pouco comentado por empresários e pesquisadores é o que se refere aos valores intrínsecos que as empresas deveriam levar a efeito. O que encontramos, em larga escala, é a importância dada aos valores tangíveis e que são apresentados, por muito empresários de empresas de sucesso, às vezes de maneiras exageradas que chegam a quase denotar um culto ao princípio de que dinheiro só se ganha com dinheiro.

Claro que não se pode cair na ingenuidade de que o capital financeiro não é importante para o sucesso empresarial, mas será que inexistem outros valores intangíveis tão importantes quando o financeiro e que contribuem também para o sucesso das empresas?
 Quando falamos de ética, excelência, responsabilidade, diversidade, equilíbrio, transparência, honestidade referimo-nos a valores intrínsecos e expansíveis que podem se espalhar pelas organizações como podem também escassear, dependendo do comportamento dos seus dirigentes.

Análogo a uma estrutura física, os valores intrínsecos de uma organização são extremamente dependentes dos seus fundamentos e para que estes fundamentos aconteçam é determinante o caráter de seus fundadores e de seus dirigentes ao demonstrarem desde os primórdios da organização a missão que determinará a finalidade da sua existência: a sociedade ou o lucro, pois o segundo tem que ser a consequência da primeira.

Esta determinação é facilmente observada quando observamos, na prática, o comportamento das pessoas que constituem as empresas, independentemente de estarem escritas ou não em quadros exuberantes nas paredes, as missões determinantes de suas existências, pois é a missão que encaminha as organizações ao credo de seus valores. Quando os seus colaboradores demonstram que conhecem, praticam o norte determinante da organização e são acompanhados pelos dirigentes, tendem a agregar estes valores intrínsecos nos seus produtos ou serviços. No caminho inverso é um autêntico laissez faire, que pode ser traduzido como “um verdadeiro oba-oba”, refletindo na baixa qualidade de suas produções, e no desrespeito de seus stockholders, promovendo, consequentemente, a felicidade de seus concorrentes.

Infelizmente muitos empresários desconhecem completamente o conceito de missão organizacional e entre os que conhecem encontramos relutâncias na aplicação dele em seus planejamentos estratégicos. Esta relutância decorre da incredulidade na aplicação de conceitos teóricos e essa incredulidade conduz a não oficializar os valores da empresa para que seja de conhecimento de todos e aplicados em suas operações diárias.

A nossa realidade – principalmente nos municípios de médio porte, os que tem entre 25 mil a 100 mil habitantes é a predominância de empresas de pequeno porte, até 100 empregados, é pontual, pois a grande maioria dos empresários só têm a vivência prática e é exceção os que têm conhecimentos teórico, seja através formação média específica, superior ou cursos livres de qualificação profissional e continuada. Esta situação é um terreno fértil para que empreendedores, como já tratei neste espaço anteriormente, iniciem negócios nos segmentos onde foram empregados com a principal finalidade de suas sobrevivências.

Este ambiente convulsivo, onde os objetivos principais são as receitas, não proporciona a proliferação dos valores intrínsecos, a não ser quando os empreendedores tenham caráter moldado pela família, escola, amizades e instituições religiosas ou não. O resultado notado é a ausência de qualidade nos produtos e principalmente nos serviços, preços determinados pela posição social dos usuários e outras distorções que não são condizentes com a nossa contemporaneidade.

Voltamos ao primeiro parágrafo do presente artigo para reafirmar que o despropósito registrado nos dois itens anteriores não fica restrito aos novos empresários, pois da mesma forma encontramos em empresas de relativo sucesso, apesar de seus dirigentes pregoarem que praticam os valores da boa governança em suas empresas, apresentam que, na prática não é isto que ocorre e sim a negação do discurso. Esta negação é observada inicialmente nos seus colaboradores, pois quem está no ambiente destas empresas percebem durante o expediente que o caráter de seus superiores hierárquicos está distante do que a sociedade esperava sabido que ocorrem desvios, principalmente, na responsabilidade legal, social, ambiental. Embora uma parcela dos colaboradores discordarem destas irregularidades, permanecem nos empregos por ausência de opções no mercado de trabalho. Esta é uma das razões porque não ocorre a lógica da lei de Darwin quanto a extinção seletiva das organizações que não adaptam às exigências do mercado atual.

As organizações podem sintetizar todos os valores implícitos em apenas um: honestidade. Honestidade na responsabilidade fiscal, na transparência, no respeito às pessoas etc, e a consequência da ausência desta prática em busca de ótimos resultados financeiros tem como norte comum a sonegação fiscal do país, pois se nada vier a acontecer, continuará em torno de 9,2% do PIB, ou seja R$ 626,8 bilhões.

Infelizmente o cenário não demonstra expectativas melhor neste ambiente e quando Michael Palanye (1891-1976) afirmou que “a maneira como as batatas se acomodam para encher um sado tem analogias óbvia com a corrida competitiva dos indivíduos”, não está acontecendo nestes valores fundamentais.