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Os “memes” do Penedo

Bate-boca nos bastidores da Câmara de Vereadores de Penedo por causa da disputa por comissões parlamentares

Ao acompanhar a parada militar do 7 de Setembro e tantas outras existentes à parte os calendários festivos, ocorreu-me que nós penedenses, em especial, carregamos no sangue um instinto “mordaz” – somos velhos! Nascemos junto com o Brasil. E isso tende a ser algo paradoxal, não somente por ser o nosso Brasil um “jovem”, mas principalmente por ser o meu Penedo um “velho”. Digo que desde muito cedo fui dado às oportunidades várias de conhecimento, boas ou ruins, grandes ou úteis, e muitas destas busquei aqui mesmo nesta terra sem palmeiras e onde o sabiá já se cansa de cantar.

“Culturando” velhas máximas, nos deparamos com uma velha idéia despropositadamente renovada – A Parada Militar do 7 de Setembro e a Parada do Orgulho Gay ; enquanto uma é tradição, a outra é invenção buscando ser tradicional. Uma semana de tradição será uma semana tradicional se a entendermos pelo sentido restrito da palavra que pode até ser ambígua, mas é completa e “traz conservadoramente o respeito das gerações”. E se formos além e observarmos instintivamente o que se exibe nas paradas do 7 de Setembro e do Orgulho Gay, pouca diferença se encontrará, salvo a mensagem de civismo, ou muitas das vezes nem civismo, nem civilidade.

Do tradicional dia 7 de Setembro, recordo com alegria os tempos em que meus pais me levavam à casa de meus avôs no antigo “Beco do Hospital” para de lá avistarmos juntos as marchas cadenciadas dos soldados e estudantes que se apresentavam no desfie cívico do dia da Independência. Já que recordar é viver, e já imbuído desse sentimento nostálgico, reavivo com verdade toda beleza que pude presenciar numa época em que nossa paixão era unicamente a de Cristo, certos de que não havia ainda Barack Obama. E num átomo, eu me transportei das calçadas para as ruas; deixei de assistir para ser assistido exatamente no ano em que junto de minha irmã primogênita, completávamos os dobrados da Banda Marcial do Colégio Estadual do Penedo (CJSP). Era uma alegria distinta tanto para quem tocava como para quem assistia. Recordo ainda da vez em que fui gritado pelo “maestro” Luiz Egno, que enérgico me pedia a atenção. Esse dia eu jamais pude esquecer.

Lembrar dos fervorosos concursos de banda, e da competição que existia antes, durante e depois, onde se era terminantemente proibido comentar as pretensões musicais de uma banda para outra. Lembrar mais remotamente também do Maestro Egildo, é saber que os “memes” do Penedo já não são os mesmos. E ver quantos equívocos se comete em nome do “melhor” é um dos pontos mais turbulentos da minha memória. Lembrar da disputa que se abria entre os colégios para decidir qual seria o último a desfilar, isso por acreditar que sendo os últimos seriam os “maiorais”; lembrar de minha avó que da calçada, fitava os ricos figurinos das moças que se exibiam alegoricamente enquanto aguardava ansiosamente para avistar de longe seu neto que era o último a desfilar, e como sempre depois de todos vinham os maiorais, junto deles também vinha a exaustão, já companheira fiel tanto da avó quanto do neto. Isso seria o prazer do matuto, e isso ainda hoje é visto e aplaudido como tradição no Penedo.

Testemunhar o prazer de um pivete afoito tanto quanto suicida a desfilar sob sol escaldante fantasiado de Sabino Romariz, cujas mãos suportavam um cartaz que mostrava trechos do poema “O Lírio” – isso é prazer pra brasileiro. Porém, quando nos aproximamos do pivete, e lhe oferecemos um copo com água, e por curiosidade lhe perguntamos: quem é Sabino Romariz? E o pivete esperto e traquinas nos responde firmemente: -“sei não, foi a tia quem vestiu e mandou eu segurar”…resta-nos crer que isso não é prazer para penedense, mas de há muito vem se fortificando tradicionalmente no Penedo.

Triste concluir que o que temos visto nos desfiles das paradas militares do 7 de Setembro se confunde com as plumas e paetês das paradas gays. Ainda que o lastro seja o mesmo, em que pese uma ter gritado a independência para uma “maioria”, enquanto a outra quer gritar a independência de uma “minoria”, tudo isso que é muito, ainda é pouco para o que queremos.