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Sergipe

Orquestra é instrumento de transformação social de jovens do Santa Maria

Orquestra Jovem de Sergipe escreve sua história

Do portão já se escutam o ressoar das vozes e a reverberação das notas agudas e graves de violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. Com o apressar dos passos, sente-se o arrepio. A música, que preenche os ouvidos, é a mesma que emociona. O palco é nada mais que uma escola. No centro dele estão crianças e adolescentes, que munidos com partituras e arcos [utensílios dos instrumentos de corda], entoam em seu repertório canções que vão do erudito ao popular.

Reunidos em grupo, eles formam a Orquestra Jovem de Sergipe, projeto realizado pelo Governo do Estado, Ministério da Cultura e Instituto Banese, e composto por 50 coralistas e 50 músicos que se dividem entre os instrumentos de corda. Seu guia é o maestro Márcio Bonifácio, que, com ponderação, rege a vida de estudantes moradores do bairro Santa Maria, que escolheram a música como meio de empoderamento social.

Ministradas de segunda a sábado, as aulas da orquestra acontecem no período da tarde. Seis vezes por semana, os 100 jovens reúnem-se no Colégio Estadual Vitória de Santa Maria para aprender não só princípios musicais, como de cidadania. “Esse é um trabalho que vai além da formação de cidadãos. E o fato de os ensaios acontecerem no bairro Santa Maria, é fundamental para trazer esses jovens para a orquestra. Aqui a comunidade é carente, mas tem muito potencial, além de talentos escondidos”, declarou o maestro. Márcio explica que é notória a mudança de comportamento dos alunos do início do projeto até o momento, e que a visão de mundo deles altera-se no decorrer das aulas.

“Faço turno integral na escola e depois venho ensaiar. A Orquestra Jovem para mim é como um porto seguro, pois limpa a cabeça da realidade cruel que vivemos hoje em dia. Ao chegar aqui desconecto do mundo e aí somos apenas eu, o violoncelo e a música. Poderia dizer que sou um apaixonado pelo instrumento e às vezes sinto como se fosse extensão dele e ele a minha. É algo meio que de corpo e alma”, expressou Clariskennedy dos Santos Monteiro, 17, aluno do Vitória do Santa Maria.

Solidário aos colegas, o estudante conta que conseguiu atrair mais jovens para o mundo da música, pois vê a Orquestra Jovem de Sergipe como saída para diversas dificuldades. “Ocupar a mente é sempre bom, ainda mais quando é algo proveitoso tanto para sua vida, quanto como profissão. No futuro, penso em seguir no ramo e também quero seguir carreira acadêmica, cursando Física na faculdade. Tenho muita vontade em seguir também na Orquestra Sinfônica de Sergipe e no Conservatório de Música”, almejou.

Lado a lado com a filha Fernanda Silva, 10, Gleide Selma Gomes conheceu o projeto e forneceu todo apoio para que a pequena participasse. Ela acredita na importância da formação musical e erudita, e que a Orquestra serve como incentivo para crianças do bairro. “Para mim, a questão da música clássica na vida das crianças é importante. Sou estudante de Artes Visuais na universidade, e vejo a necessidade disso, pois desenvolve a sensibilidade e nosso entendimento enquanto indivíduo”.

Sinfônica ou não, a Orquestra Jovem de Sergipe escreve sua história com personagens que, podem até não ter pretéritos perfeitos, mas têm um presente marcante e um futuro transformador, utilizando como instrumento a leveza da música e o bem estar causado por suas canções.