Tornei-me um político ao longo do ano de 2002 quando coordenei, aqui no estado, a campanha do candidato a presidente Anthony Garotinho. Antes, tinha com a atividade política uma ligação meramente profissional. Como profissional de marketing, tomara parte em várias campanhas eleitorais, elaborando trabalhos para candidatos a prefeito, deputado estadual, federal, senador, governador… Enfim, todos os níveis da disputa eleitoral. Como coordenador da campanha presidencial de Garotinho restringi meu trabalho à área urbana de Natal em virtude da falta de recursos para me deslocar pelo interior. Já em 2004, tendo em vista os excelentes resultados que o trabalho de coordenação em 2002 apresentara, vários companheiros acharam por bem lançar minha candidatura a prefeito de Natal, lamentavelmente destruída por uma aliança que, cheios de esperança, imaginávamos seria benéfica.
Para alavancar a candidatura fizemos contato direto com o eleitor. Foram centenas de reuniões, encontros de bairros, participação até em atividades festivas, tudo com o objetivo de estabelecer um relacionamento estreito com o eleitor, além de ouvir seus desejos, sonhos, frustrações. Foi um período muito rico. Experiências novas, modificação de conceitos, conhecimento de novas realidades e o estabelecimento de um elo de esperança entre nós e as pessoas que nos recebiam. Porque? Pela valorização do debate de idéias. Nesses encontros, as lideranças de bairros, as donas-de-casa, até mesmo os jovens (injustamente acusados de alienados e desinteressados do processo político) apresentavam idéias, articulavam proposições, se abriam, enfim, para um debate sério, profícuo, inovador. Por esse processo, os problemas locais eram passados a limpo, deixando de existir espaço para o besteirol, para a conversa fiada.
Durante o tempo em que esses encontros foram realizados, sempre priorizei o debate de idéias. A conseqüência, extremamente positiva, foi a formatação de um belíssimo programa de governo, por sinal bastante elogiado, e as condições de apresentá-lo, discuti-lo, debatê-lo. Tornei-me, assim, um político desejoso de manter acesa a chama da exposição construtiva de idéias, com o objetivo de enriquecer a discussão, de ocupar espaços nas mentes e nos corações das lideranças com propostas que apontassem soluções para as dores coletivas do povo. Entretanto, as dificuldades são inumeráveis para o político que quer se manter nesse diapasão, pois a quase totalidade das lideranças não está disposta a trilhar esse caminho. E o que se vê, com raras exceções, é tão somente a partidarização da atividade política, com o noticiário e as agendas entupidas com especulações as mais variadas possíveis.
Tudo gira em torno do novo partido de fulano, da nova filiação de beltrano, da candidatura de fulano a isso ou àquilo, quem vai trair quem, quem vai largar quem no meio do caminho, quem vai ser passado para trás. O político celebrado passa a ser, então, o que sabe enrolar mais, dissimular mais, trair mais. Sabido, matreiro, experiente não é aquele que levanta e defende uma bandeira, uma causa. Sabido e matreiro é aquele que sabe indicar o maior número de afilhados para cargos comissionados, é aquele que vence o adversário com estocadas próximas da marginalidade, que pratica a maior taxa de fisiologismo, que tem um discurso cujo conteúdo ninguém sabe qual é. Que, enfim, não se compromete com nada, muito antes pelo contrário. Ideologia não existe mais, virou palavra fora de moda. Eu, contudo, não penso assim. E por pensar assim, continuarei a luta pela exposição das minhas idéias.