Oficinas de culinária e música são utilizadas como terapias complementares na reabilitação de adolescentes com deficiência intelectual, visual e Transtorno do Espectro Autista (TEA) assistidos pelo Centro de Reabilitação José Leonel Ferreira Aquino – CER IV .
O impacto dessas ações no processo de reabilitação vai desde ao estímulo de membros e capacidades que ficaram comprometidas com a deficiência até a promoção da integração social e da autoestima de cada aluno.
“Nós fizemos um processo de avaliação dos usuários e identificamos que eles não tinham o perfil para atendimentos privativos, ou seja, no consultório. Eles já possuíam habilidades consolidadas, porém, tinham dificuldade de interação social, não possuíam capacidade de iniciativa para conversar, criar vínculos afetivos e de amizades”, explica a terapeuta ocupacional, Ane Cleia Amaral, uma das idealizadoras das oficinas.
Além de Ane Cleia, o projeto das oficinas foi conduzido por duas psicólogas e contou com a participação de outros profissionais que compõem a equipe multidisciplinar do CER IV. A equipe ajudou a explorar os temas de cada oficina e foram os jovens que escolheram os temas de cada encontro, tais como: culinária, música e relaxamento.
Segundo Álvaro Ribeiro, 14 anos, as oficinas renderam momentos inesquecíveis. “Eu achei as oficinas divertidas, bem diferentes, adorei a oficina que ensinou a fazer pães. Aqui no centro também é muito bom para socializar com as pessoas, fazer novos amigos e eu gosto de todas as profissionais”, expressou o adolescente que está no 1º ano do ensino médio e sonha em ser um profissional da programação. Ele garantiu que participará do segundo ciclo de oficinas. “Eu com certeza vou estar e já sugeri que tenhamos oficina de futebol, natação, programação, controle de gastos e uma oficina de confecção de pizzas”, compartilha.
Para a mãe de Álvaro, Gildete Alves dos Santos, os resultados compensam os esforços semanais. “Eu gostei muito, meu filho se desenvolveu bastante, aprendeu muita coisa que ele não sabia fazer, principalmente, na cozinha. Ele está se virando melhor em casa e estou feliz”, relata. A lavradora, que é residente no município de Itabi, disse ainda que no CER IV conseguiu encaminhamentos para outras especialidades, o que tem ajudado ainda mais no monitoramento da saúde de Álvaro.
O sentimento de gratidão pelos serviços realizados também foi expresso pela agente de saúde, Marlene Nascimento. Ela é mãe de Otávio Augusto, um adolescente com autismo que também participou de todo o ciclo. “A gente vem ao CER IV desde a inauguração. O meu filho está mais independente, tomando mais iniciativas. Ele tinha dificuldade alimentar, de socializar e houve um progresso, hoje toma iniciativas que ele não tomava, esperamos que o projeto continue, pois, os profissionais aqui são excelentes”, enfatiza a moradora da cidade Itabaianinha.
O processo de chegada ao CER IV de Maria Valquiria Santos Silva, foi através da Atenção Primária à Saúde. A mãe de Cainã Santos Bezerra , 15 anos, é moradora de Aracaju e explica as mudanças que aconteceram na vida do filho. “Eu fui ao posto de saúde, dei entrada e consegui chegar aqui, graças a Deus. Ele tem melhorado muito, se comunica, faz as tarefas, me ajuda. As oficinas estimularam Cainã a ter independência, fazer atividades como forrar a cama e outras tarefas”, fala.
Um dos poucos homens a acompanhar o filho nesse processo das oficinas é João Paulo da Silva. O trabalhador da jardinagem também focou nos ganhos em relação à qualidade de vida de Cauã Victor, 15 anos. “Cauã é um adolescente com autismo e está se saindo muito bem, sinto uma melhora muito boa, nota dez. Ele se comunica mais e está mais calmo, o comportamento está bem mudado. Ele aprendeu a cozinhar, a interagir com outras crianças”, destaca o morador do município de Itabaiana.
Em todas as falas dos familiares dos jovens, há uma partilha sobre a relevância de iniciativas como o ciclo de oficinas. De acordo com Ane Cleia, o projeto terá continuidade, ou seja, uma segunda etapa será ofertada para os adolescentes e outros usuários com perfil poderão ser inseridos. “Quando as famílias falam da dificuldade que tinham e analisam como seus filhos estão mais desenvoltos, isso só nos estimula a seguir. Ver esses adolescentes buscando estratégias para conversar com as pessoas, mais colaborativos, realizando trabalho em equipe, mais tolerantes ao tempo de espera, isso mostra o resultado do que estamos trabalhando aqui no CER IV. Quando a gente amplifica a voz desses adolescentes, a gente se surpreende com o que eles devolvem e para nós isso é muito rico, não tem preço”, conclui com felicidade a terapeuta ocupacional.