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O que devemos criticar: ideias ou pessoas?

Está cada vez mais corriqueiro escutarmos “Não gosto dele e sou contra tudo o que ele faz ou afirma”, isto lembra-me da afirmação “não li o livro dele e não gostei” o que sinaliza que o estado de ânimo atual está saindo do sinal amarelo para o vermelho.

Um assunto atual que provoca discursões e críticas das partes é o modelo de escola cívico/militar, que pode servir como um exemplo do nosso tema, vamos criticar o modelo ou quem está implantando? É de conhecimento da maioria que o modelo está sendo colocado na prática nas escolas públicas de governos estaduais da direita conservadora, que se diz liberal enquanto os da esquerda que se diz progressista critica o modelo. Aí me fico perguntando liberal? Progressista? Colocando de lado o viés político, posição cada vez mais difícil nos nossos dias, para criticar o modelo proposto vamos deixar de lado a falácia e apenas respostar certas perguntas antes de criticá-lo, crítica no sentido correto: apreciação.

Entendo que para fazer esta apreciação para emitir a opinião é necessário apenas fazer perguntas sobre o assunto como: por que trazer modelos militares para órgãos civis? Quais as causas que provocaram esta opção? Estas causas não podem ser resolvidas sem este modelo? Os agentes que agirão estão preparados para tratar do assunto requerido? E assim por diante, mas a principal pergunta no meu entendimento é por que as escolas particulares não adotam este modelo? Com as respostas podemos fazer a crítica apreciando se é a uma boa ideia ou não.

Quando não se concorda com alguma ideia ou posicionamento expresso em artigos, livros, declaração etc, a principal regra para externar a discordância é que a ideologia não ocupe o espaço da razão, infelizmente o que não ocorre nos dias atuais. O que ocorreria se a ideologia invadisse a discursão clássica destas duas grandes teorias econômicas , a liberal de Adam Smith (Riqueza das Nações) versus a estatizante de Karl Max (O Capital), a qualidade dos argumentos apresentados seria substituída por acusações de baixo nível como comunista safado, imperialista explorador e outras bem pior. Mas quando a razão prevalece as críticas analisam o funcionamento antagônico do que expressa estas teorias, é bom ressaltar que tratam de teoria, que como toda ciência social poderá dar certo, meio certo ou erradas, sem desclassificar seus autores. O falecido Delfin Netto, (1928-2024( que de comunista nunca teve nada, dizia acertadamente que como teoria a de Max era quase perfeita, pois funcionou quando a antigo União das Repúblicas Socialistas Soviéticas era um regime extremamente fechado que não resistiu a abertura internacional dos mercados e ruiu literalmente com a queda do muro de Berlin. Isto não quer dizer que Smith esteja totalmente certo, pois o mercado livre não resolve todos os problemas econômicos sem ter contrapeso que limite certos procedimentos.

Sobre estas duas teorias, o general Carlos Alberto Santos Cruz, secretário de governo na gestão de Jair Bolsonaro, foi muito feliz ao dizer que o ideal seria mesclar o que deu certo nas ideias de Smith e Max, mas posições ponderadas iguais a esta, principalmente vinda de um militar, estão cada vez mais raras na atualidade que foram substituídas pela irracionalidade do extremismo. Houve um tensionamento da vara, tanto para direita como para a esquerda a partir de 2018,

E este tensionamento está influenciando as posições das críticas, a liberdade de posicionamento das pessoas, ultrapassando os limites da racionalidade nas discussões sobre qualquer tema, desde o político até o religioso, movimento este que surgiu na campanha da eleição presidencial de 1918, quando voltou à tona posições extremistas que tinham sido soterradas com a queda do muro que dividia a Alemanha pós guerra de 1941, quando a República Democrática Alemã ligada ao bloco soviético (comunista) e a República Federal Alemã (capitalista) que representavam a divisão mundial da época: países localizados no ocidente (capitalista) e países localizados no  oriente (comunista). A reunificação das Alemanha marcou o declínio da economia marxista, criada para países fechados e que não se adapta a economia globalizada. A queda deste muro que dividia as Alemanhas foi emblemática para a derrocada do comunismo em nível mundial.

Porém aqui a partir de 2018 as discussões deixaram de ser de ideias, para se tornarem radicais, limitadas e ofensivas, Não interessando para os grupos apegados a este radicalismo o pensamento contraditório, as entrevistas discordantes e as publicações de pensamentos divergentes, “pois quem pensa diferente do nosso grupo ou é comunista ou é imperialista”. Durma-se com um barulho deste, empobrecendo o diálogo e as soluções para nossos problemas. Para quem só sabe usar o martelo o problema sempre é o prego.

Escrevo artigos, neste espaço, desde dezembro de 2018, e dois deles tiveram comentários que me deixaram atônito, um dizendo que o texto era muito teórico outro que a responsabilidade de qualquer desvio na segurança é dos órgãos governamentais, Conciso assim, sem constar nenhuma alternativa para eu refletir ou contra argumentar.

Embora muitos não queiram, parece-me que as eleições municipais deste ano sinalizaram que a vara está se movendo para o equilíbrio necessário ao bom diálogo. Tomara que eu esteja certo.