No próximo 6 de abril, quem pertence a civilização cristã relembra, com indescritível tristeza, uma das mais cruéis atrocidades praticadas contra um ser humano investido de divindade: a humilhante e dolorosa Paixão de Jesus Cristo.
Sabe-se que Jesus foi vítima do mais abominável castigo aplicado pelo Império Romano porque, pertencendo ao grupo dos apocalípticos, pregava a rivalizante doutrina da presença do Reino de Deus, criticava abertamente o status quo, ou seja, os “palacianos” políticos e religiosos, em determinados casos desrespeitava a Torá, praticava a “comensalidade aberta” com bons e maus, condenava a miséria e os que aceitavam o jugo romano, realizava feitos miraculosos inimitáveis, dizia que viera a este mundo para nos redimir do pecado e, finalmente, afirmava ser o Filho de Deus e rei, só que seu reino não era deste mundo.
Tais atos e afirmações, somadas ao absurdo “ataque ao Templo” na época da Páscoa, em que bastava uma microscópica fagulha para que o sentimento de libertação dos judeus explodisse, pois lembravam o milagroso êxodo do Egito, o tornou persona non grata tanto aos olhos dos chefes religiosos israelitas, quanto aos das autoridades políticas e militares romanas.
A partir daí, não mais interessava se Ele era um Rabi, Amen, Messias ou Mar. Tinham de escolher entre Ele e a paz, pois se a multidão se rebelasse seria esmagada sem piedade pelas temíveis Legiões romanas, as relações entre a cúpula judaica e o Império ficariam para sempre estruturalmente abalada e talvez, até mesmo boa parte de Jerusalém fosse destruída. Portanto, deviam encontrar uma maneira de eliminá-lo, uma vez que representava uma séria ameaça.
Enquanto orava no Monte das Oliveiras com tanta angústia que chegou a suar sangue, pedindo, em vão, ao Pai, que O livrasse do que estava por sofrer e seus apóstolos dormiam bêbados devido à quantidade de vinho consumida durante a Última Ceia, foi “traído” por alguém que não só pertencia ao seu círculo íntimo, como também possuía um cargo importante no grupo dos doze.
Ao receber ordem de prisão, foi completamente abandonado pelos seus “fiéis discípulos” no Monte das Oliveiras. Quando conduzido para ser interrogado, o sectário em quem mais confiava negou, por várias vezes que O conhecia.
Conduzido a presença de Pôncio Pilatos, após breve “conversa”, ficou sem saber como responder a uma das perguntas – “O que é a verdade?” – do tirano Governador.
Julgado, foi considerado culpado, e por isso, flagelado e condenado à pior das penas: a crucificação.
Como se encontrava em estado de total exaustão física determinaram que alguém que não fazia parte de seu grupo, carregasse não a cruz, mas o patibulum, até o local de sua crucificação: o Gólgota.
Crucificado ladeado apenas por dois marginais e os centuriões, pois seus “amigos” estavam escondidos por medo de terem o mesmo destino, um pouco antes de morrer, teve a certeza de que não tinha sido abandonado apenas pelos homens, mas também por Deus, ao gritar desesperadamente: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste?”
Deus o abandonou porque Jesus havia esquecido o que Ele próprio dissera em João 13,16: “O servo não é maior do que seu senhor…”.
Na época, o servo era Ele, JESUS, e o senhor o Império Romano.