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O Homem e a Máquina

E lá vamos nós a caminho do necrotério

Aquele homem recebeu um chamado para fazer um trabalho. Não sabia do que se tratava. Compareceu diante dos “donos da verdade” e ouviu a sinistra ordem: subir na gigantesca máquina e derrubar uma casa. A família em pânico chorava. Sua casa ia virar entulho. Estava no lugar errado. A vizinhança participava , solidária.

O homem do trator ouviu com os ouvidos, mas sua alma não escutou aquela terrível ordem.
Subiu na máquina e suas mãos calejadas pelo manuseio da mesma, perderam a força.

Encostou a cabeça no ferro gelado do trator e soluçou triste, sem coragem de executar aquele mandado. Os soldados pressionavam o pobre homem e o ameaçavam de prisão caso não obedecesse o que lhe fora ordenado.

Acredito que naquele momento iniciou-se uma tremenda luta no interior daquele tratorista: derrubar a casa e continuar livre ou deixar a casa no lugar e ir direto para a cadeia pagar pelo “crime” de ter sido humano, pleno de nobres sentimentos.

A multidão tinha os olhos fixos no homem e na máquina. Cada gesto era acompanhado com atenção. O suspense era geral. Ele ainda ergueu a escavadeira, mas não conseguiu fazer mais nada. Desceu, e decidido, se colocou à disposição das consequências do seu ato de” desobediência às autoridades”, conforme foi colocado no ar, para o Brasil inteiro ouvir.

Olhei profundamente para os olhos daquele homem. Provavelmente não frequentou a escola por muito tempo, mas naquele dia, se diplomou com nota mil, quando disse : não à humilhação, não ao desrespeito, não à morte! Porque quem destrói casas, tira a vida de quem nelas habita.
Brotou a gratidão. O homem do trator foi recebido com abraços e beijos por aquele povo, principalmente por aquela família que o fez ” salvador”, por ter alongado a esperança de uma vida melhor, sem despejo e sem medo…