Em maio desse ano, o Núcleo de Apoio Psicossocial (Naps) do Instituto Médico Legal (IML) foi reestruturado. Hoje o local possui uma sala exclusiva com atendimentos voltados às crianças e adolescentes até 16 anos vítimas de violência doméstica. O ambiente lúdico, com decoração infantil, ajuda o trabalho dos psicólogos na identificação de problemas enfrentados pelas vítimas.
Ano passado, o núcleo realizou 512 atendimentos. Esse ano, até o mês de setembro, foram 335. A maioria deles é estupro e, em segundo lugar, lesão corporal. “Ano passado o atendimento já era realizado nos corredores do IML, mas como muitas vezes acontecia da criança encontrar o agressor, passamos por essa estruturação”, explicou a psicóloga do Naps, Rita Carla Sandes.
Por meio do ambiente lúdico, a psicóloga explica que fica mais fácil de detectar o problema que a criança está enfrentando e o tipo de violência a qual foi vítima. “Utilizamos os desenhos, bonecos, e até o modo que a criança segura a boneca já pode nos dizer muita coisa, pois dessa forma ela se sente mais à vontade”, esclareceu.
As crianças chegam até o IML através do Conselho Tutelar ou encaminhadas de delegacias. Antes de realizarem o exame, todas são atendidas pelo Naps, que faz um trabalho de preparação para os procedimentos seguintes.
“Quando é algum caso de estupro pego em flagrante, a vítima é encaminhada para o Hospital Santa Mônica ou Hospital de Doenças Tropicais (HDT) para a realização da profilaxia: elas recebem um coquetel com medicamentos que combatem doenças sexualmente transmissíveis, gravidez, entre outros”, disse a psicóloga.
Os relatos das vítimas são enviadas para o médico, que junto ao laudo, envia para o delegado responsável pelo caso.
O núcleo recebe quase que diariamente crianças de todas as idades, inclusive menores de um ano. Normalmente são acompanhadas por algum dos pais ou familiares, que participam do início da consulta. “Muitas vezes a mãe, por exemplo, quer acobertar o padrasto. Então eu escuto o relato do acontecido com a mãe ao lado, depois peço para que ela se retire e fico a sós com a vítima, pois preciso que a criança tenha confiança em mim”, relatou Rita Carla.
O núcleo recebe doações de brinquedos que estejam em bom estado. Os donativos podem ser feitos na sede do IML. Segundo a psicóloga, as crianças começam a brincar e não querem ir embora sem o brinquedo, por estarem em momento de fragilidade. Nestes casos, os brinquedos são dados as vítimas.
A psicóloga também alerta sobre os sintomas de quando alguma criança foi ou está sendo vítima de violência doméstica. “É importante que os pais sejam amigos das crianças. Mas é importante prestar atenção quando elas chegam com algum objeto diferente em casa, quando apresentam problemas na escola ou distúrbio do sono”, finalizou.