A invasão da Ucrânia, opondo a Rússia aos Estados Unidos e ao ocidente, veio retomar uma narrativa familiar de quem conhece a história do século XX. Mas estamos no século XXI e as circunstâncias geopolíticas são bem diferentes. Importa ter isso bem presente para compreender como isso pode nos afetar e qual o caminho que a diplomacia brasileira deve trilhar para nossa política externa. Vejamos em pormenor.
A invasão da Ucrânia: uma jogada de cassino
O presidente russo, Vladimir Putin, veio fazendo jogadas político-militares com sucesso e terá pensado que sua “operação militar especial” contra Kiev seria mais uma. Mas a política internacional não é uma sala de cassino.
Mesmo em uma mesa de roleta, é necessário saber que não ganhamos sempre. Experimente sua sorte no cassino online comprove essa verdade. Quem não adotar medidas de jogo responsável pode acabar rebentando seu orçamento. O ideal é jogar com cautela.
Putin está em um buraco e sua esperança atual é congelar o conflito, evitando novas derrotas até o momento em que os Estados Unidos se cansem de apoiar a Ucrânia.
China vs Estados Unidos
A guerra da Ucrânia poderá vir a ser considerada nos livros de História como uma operação secundária em um conflito de grande escala entre a China e os Estados Unidos. Isso parece bem mais provável que uma guerra termonuclear entre a Rússia e a América.
No século XX a União Soviética era a principal potência comunista e a China um “parceiro júnior”, até os dois países se incompatibilizarem. No século XXI é o inverso: a China sonha ser a primeira potência mundial, enquanto a Rússia está apenas gerindo sua decadência econômica (agravada com a guerra).
A Rússia não mostrou, até agora, qualquer desejo de enfrentar a Otan. Importa lembrar que, frente a todas as dificuldades que os militares russos estão enfrentando, a Otan ainda não colocou tropas no terreno.
A principal fonte de tensão é entre Estados Unidos e China. Xi Jinping não desiste de terminar o que considera uma humilhação histórica e forçar a reintegração de Taiwan pela força, se necessário. Os Estados Unidos já afirmaram que defenderão a ilha contra um ataque. Outros vizinhos da China (Japão, Coreia do Sul) não se sentem tranquilos com tal atitude e deverão alinhar com os Estados Unidos e com Taiwan, em caso de conflito.
As potências neutras: Índia e Brasil
Nas últimas duas décadas muito se esperou dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na ideia de que fosse possível construir um mundo multipolar e menos dependente dos interesses de Estados Unidos e Europa. Entretanto, a evolução recente mostra que não existe necessariamente uma coordenação entre esses países.
O alinhamento de China e Índia com a Rússia tem limites. A China tem seus próprios interesses, que passam pela defesa da soberania e da legalidade territorial. Apesar de todas as declarações de amizade por Moscou, os chineses não reconheceram a anexação da Ucrânia nem dos demais territórios ucranianos pela Rússia, nem estão fornecendo armas.
China e Índia estão lucrando com o petróleo barato russo e assumindo sua posição de mediadores. A Índia, em especial, se aproxima dos Estados Unidos pois precisa que os americanos não estejam longe em caso de conflito com a China – uma possibilidade sempre presente, como se vê nas distantes, mas reais, brigas entre soldados chineses e indianos no Himalaia.
No Brasil existe certa divisão de opiniões sobre o tema, embora seja certamente unânime que, se por absurdo os Estados Unidos invadissem nosso país, ninguém recomendaria uma rendição só pelo fato de estarmos enfrentando o mais poderoso exército do mundo. Ultrapassando essa divisão, é importante que nossa classe política e nossa diplomacia encontre um caminho claro, sem hesitações, que permita ao Brasil defender seus interesses, como a Índia vem fazendo.