Mais um Natal se aproxima e o verdadeiro cristão completamente triste e atabalhoado observa mais uma vez ricos e pobres no mundo inteiro trocarem o Menino Jesus por Papai Noel, pois esquecem ou não sabem que ele nesta santa festa não representa mais do que o símbolo de Mamon e que, também, esta irrisória e patética figurinha influencia ou até mesmo força os que caminham na escuridão e no medo crescente, aqueles que possuem uma economia de miséria, como sombras trêmulas e aos gritos e gemidos, a se tornarem agentes potenciais da desvairada sociedade de consumo.
As implicações de tal comportamento são monumentais: o abuso de poder dos donos de meros interesses comerciais leva os “aflitos” e “os que têm fome e sede de justiça” a traírem sua aflição, a esquecerem que vivem num canto escuro do inferno, pois convivem com a injustiça, a quebrarem os votos solenes de lutar por uma vida melhor e a trocarem a sublime oração e respeito ao recém-nascido, ao menino-Deus, por um pedaço de chita ou qualquer outra quinquilharia comercial.
Acrescente-se, ainda, algo muito mais monstruoso: o completo esquecimento do que preceitua a “Regra de Ouro” e o total abandono do comportamento do “Bom Samaritano”, uma vez que “a lei básica do capitalismo é você ou eu e não você e eu”.
Quando isto ocorre, não ficamos somente com a dor do desapontamento, da decepção e a triste sensação do gigantesco desvio do caminho que deve ser seguido. Não, não ficamos só com isto. O nosso mundo começa a desabar e então iniciamos nosso mergulho num poço sem fundo. Nesta situação é difícil, a quem quer seja, se deslocar apenas um metro em direção a superfície. Depois disto vem o pior, pois com a perda do caminho a ser trilhado, do rumo a ser seguido, perdemos também um pedaço de nossa alma. Quando isto acontece as conseqüências são terríveis porque se nossa alma diminui nos tornamos menos humanos e mais animalescos.
Ora, o Natal é tempo de sermos solidários, de darmos valor ao que realmente importa, de renovarmos o espírito de esperança e solidariedade, de vivermos rodeados de quem amamos, de dobrarmos nossa vontade política, trabalho sério e honesto para responder os desafios e construir uma sociedade mais igualitária e fraterna, capaz de criar oportunidades para todos e dar conforto a quem mais necessita.
Diante de tais conflitos, como viver o verdadeiro espírito do Natal que nada mais é do que uma divina e pungente reconciliação com a vida?
