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Não em prol da cidade, mas pelo interesse próprio

Um prefeito que intencionalmente, levado pelos mais torpes e vis sentimentos deixa o município em situação caótica, fica evidenciado mais uma vez que o eleitor cometeu um engano, elegendo um espécime do esgoto humano, sem compostura e estatura para o exercício do cargo.

Vamos imaginar que você quer transformar o município numa salada indigesta para ser oferecida, num gesto de gratidão, ao povo e ao seu sucessor. Os ingredientes para fazê-la são encontrados entre muitos prefeitos derrotados, como você, portadores dos piores adjetivos. Quais as delícias que iremos degustar? A irresponsabilidade, molecagem, assalto, sabotagem e o vandalismo entre tantos outros sabores infernais. Foi exatamente com esse prato que alguns prefeitos frustrados em sua reeleição acharam por bem recepcionar seus munícipes.

Muitos se candidatam a prefeito, partem para a luta, mas somente poucos estão preparados para enfrentar a derrota. Vitoriosos, como diria Ulisses Guimarães, passam a usufruir o orgasmo do poder. Em sentido contrário, o malogro das urnas, fantasma dos desesperados, transforma-se num carrasco que obriga descer goela abaixo um cálice de fel.

O comportamento desses dois extremos ficou patente com o desfecho do último pleito. Alguns, inconformados com a reeleição perdida, tornaram-se, no mínimo, alheios à administração do município. Em casos mais graves, se não foram os mentores direto pelos desmandos, tornaram-se responsáveis pela omissão permitindo a depredação do patrimônio público. Foi um gesto que demonstrou claramente uma personalidade imatura, egoísta e irresponsável que enxerga apenas a si próprio e seus interesses acima de tudo. 

Suas obrigações com a administração que deveriam persistir até o fim do mandato, entraram em colapso, fruto de uma carência de formação doméstica que não aprendeu o que seja compromisso e responsabilidade. Essa é a única causa responsável, sem qualquer dúvida, pela deteriorização ou mesmo inexistência de boas e sólidas instituições em nosso país.
Os telejornais mostram o absurdo e o inacreditável. Exibiram cidades no meio do caos tomadas pelo lixo, veículos sucateados, bens dilapidados, surrupiados, documentos importantes extraviados, computadores furtados ou danificados e prédios em péssimo estado de conservação. Um cenário tão estarrecedor, vendo cidades reduzidas a destroços de guerra, que não dá para acreditar que estivessem sob os cuidados de uma administração.

É inevitável que ao assistirmos todo esse descalabro não nos lembremos da campanha eleitoral quando esses inabilitados e empulhadores berravam no palanque, dizendo-se portadores das melhores intenções e projetos redentores para todos os males sociais. É o local e a oportunidade onde a mentira aparece em toda sua pureza, transformando-se na mais tradicional das nossas instituições. Muitas vitórias são a ela atribuídas, mas como têm defeito de nascença, são carentes de longevidade. Assim, ser eleito pela primeira vez, pode ter sido resultado desse artificialismo, a conhecida demagogia. A reeleição, pelo contrário, prova que o prefeito fez o dever de casa e atendeu as expectativas do eleitorado.

É bem verdade que uma eleição ou reeleição nem sempre se explica de uma forma simplista entre o bem e o mal. Outros fatores podem pesar nos resultados. No caso da reeleição, seja qual for a causa do insucesso, o que não se pode conceber é que desabafe a dor da derrota, penalizando a população e criando obstáculos ao seu sucessor, obrigando-o a decretar estado de emergência. Se fosse modesto e tivesse o hábito de fazer autocrítica, iria perceber, possivelmente, que em si próprio encontram-se as causas da derrota.

Em resumo, para disputar um cargo eletivo, o candidato não precisa apenas aparecer, tem que ser e saber inspirar confiança e, acima de tudo, ter compostura e estatura para o cargo. Nenhuma cidade deseja receber o esgoto humano e muito menos tem qualquer pretensão de satisfazer vaidades pessoais pelo cargo no interesse próprio.