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Cultura

Museu expõe O Falatório, de Stella do Patrocínio até o dia 24

A mostra gratuita ficará aberta ao público até 24 de abril de 2023

O Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, inaugurou ontem, sábado (22), às 14h, a mostra Stella do Patrocínio – Me mostrar que eu não sou sozinha. Que tem outras iguais, semelhantes a mim e diferentes. A exposição, inédita, apresenta O Falatório, de Stella do Patrocínio, nascida no Rio de Janeiro em 1941. Empregada doméstica, negra, assim como sucedeu com Arthur Bispo do Rosário, Stella foi conduzida arbitrariamente pela polícia e internada no Centro Psiquiátrico Pedro II, aos 21 anos de idade. Em 1966, foi transferida para a Colônia Juliano Moreira, onde permaneceu até a sua morte, aos 51 anos.

Ao contrário de outros internos da colônia, que traduziam sua arte em pinturas e esculturas na grande maioria, Stella do Patrocínio tinha uma produção em prosa e poesia, que depois foi registrada em gravações. “Ela tinha toda uma produção que foi depois registrada e chamada pela própria Stella de O Falatório. Ela tinha um jeito próprio de expressar a revolta do manicômio, a relação com a sociedade. E ela pôde expressar isso falando”, disse à Agência Brasil a diretora do Museu, Raquel Fernandes.

O Falatório é composto por um conjunto de conversas com Carla Guagliardi, gravadas em fita cassete, que fizeram parte, em 1986, do movimento de humanização das práticas em ambientes psiquiátricos, realizado na Colônia Juliano Moreira.

Nesse contexto foi criado o projeto Oficina de Livre Criação Artística, em parceria com a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV), idealizado pelas psicólogas Denise Correa e Marlene Sá Freire, com a orientação da artista Nelly Gutmacher e participação de estudantes da EAV.

O projeto promoveu oficinas de arte para internas do extinto Núcleo Teixeira Brandão, e formou um grupo feminino de interação com as mulheres internadas, entre as quais se encontrava Stella. “Ela era sempre altiva e se colocava de uma forma muito interessante, diferente das demais internas”, disse Raquel.

O grupo do Parque Lage gravou as falas de Stella, que acabaram fazendo parte de uma exposição no Paço Imperial, nos anos de 1990, onde se viam recortadas as frases desse Falatório que Stella colocava.

Depois, em 2001, após a morte de Stella, suas falas viraram um livro, organizado pela filósofa Viviane Mosé. Desde então, o Falatório de Stella do Patrocínio tornou-se publicamente conhecido, inspirando diversas produções artísticas e pesquisas acadêmicas.

“Com isso, Stella acabou sendo apresentada como uma potência da poesia falada. Daí, ela começa a ser reconhecida. As pessoas começam a estudar Stella, os áudios começam a circular, a partir do recorte do livro, e ela passa a ser objeto de interesse para pesquisas de mestrado e doutorado”, disse a diretora do museu.