Mulheres marcam presença nos trabalhos da Reconstrução
Que o número de empregos na Construção Civil continua aumentando em todo o Brasil todo mundo já sabe. Que mão de obra qualificada se torna produto em escassez no mercado também já não é novidade. O que vem chamando mesmo a atenção de profissionais do setor é o crescente número de mulheres que se integram aos canteiros de obra, historicamente com predominante presença masculina.
Uma coisa elas já haviam conquistado em Alagoas. De acordo com dados divulgados em janeiro deste ano, pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), Alagoas e Sergipe são os dois únicos Estados brasileiros onde os salários médios reais de admissão no mercado de trabalho são maiores entre pessoas dos sexo feminino. No Estado, o salário médio de admissão entre as mulheres é de R$ 653,18, enquanto entre os homens é de R$ 642,32.
Os avanços agora seguem para o setor da Construção Civil, que gerou mais de 33 mil postos de trabalho em todo o país no mês de janeiro. E os músculos que movimentam tijolos, cimento, madeiras e criam massas para erguer as mais diversas edificações, agora tendem a não ter mais gênero.
Informações do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), divulgadas em 2010, mostram que o número de mulheres atuantes na Construção Civil aumentou 65% na última década. Se no ano 2000 elas eram cerca de 83 mil entre 1,094 milhão de pessoas empregadas, em 2008 elas ocupavam 137.969 vagas num universo de quase 2 milhões de trabalhadores, aponta o MTE.
Em Alagoas, os números são traduzidos pela realidade. Somente em uma obra habitacional do Programa da Reconstrução, em União dos Palmares, quase 30 mulheres trabalham diuturnamente para agilizar a entrega das casas aos desabrigados das enchentes de 2010. Mais de 300 fundações de casas estão prontas e 70% dos serviços de terraplanagem estão concluídos, além dos trabalhos nas redes de água, esgoto e drenagem, também em andamento.
Para o secretário de Estado da Infraestrutura, Marco Fireman, a geração de empregos e a inserção das mulheres no setor são motivos de comemoração. “Hoje temos cada vez mais empregos e mais mulheres atuando na Construção Civil, nas mais diversas atividades. A atuação delas vai desde a engenharia até os serviços de pedreiras, serventes, ceramistas, eletricistas, azulejistas e encanadoras. E há um diferencial: em geral, as mulheres são mais dedicadas, inclusive à qualificação profissional, o que é essencial para as empresas”, destaca Marco Fireman.
Maria para toda obra – “Maria, Maria, É o som, é a cor, é o suor”, diz a composição de Milton Nascimento e Fernando Brant. Em União dos Palmares, é o suor de Maria José Pedro da Silva, de 28 anos, que ajuda a erguer as 2.020 casas do residencial Newton Pereira Gonçalves, um dos conjuntos destinados às vítimas desabrigadas pelas enchentes que atingiram a região em junho de 2010.
As paredes pré-produzidas em formas de aço já permitem a montagem de quatro casas por dia. O pico de produção, entretanto, deve chegar a 14 imóveis diários, após a finalização da fábrica de pré-moldados. E Maria José está lá, todos os dias, garantindo a execução plena dos trabalhos, para atingir a meta no menor espaço de tempo possível.
Ex-estudante do curso de Direito, em uma faculdade particular de Alagoas, Maria José largou o curso em 2009, quando ficou desempregada e não teve condições financeiras para arcar com as despesas acadêmicas. Durante mais de um ano buscou uma nova oportunidade para aplicar a experiência administrativa adquirida em empregos que exigiam o Ensino Médio completo. Sem sucesso.
A vaga de trabalho surgiu mesmo no início deste ano, no canteiro de obras em União dos Palmares, município onde mora desde os oito anos de idade. “Comecei a trabalhar no dia 7 de fevereiro”, lembra com exatidão. Naquela data, Maria foi admitida como servente de pedreiro e passou a auxiliar os homens na construção. “Mas só passei quatro dias como servente. A empresa percebeu minhas outras habilidades e passei logo a ser supervisora das betoneiras”, se orgulha a trabalhadora.
Não é para menos. Depois de um longo período desempregada, hoje ela administra o funcionamento de dez betoneiras, as máquinas que produzem a massa necessária para unir os tijolos que erguem as casas. “Tenho que verificar a quantidade exata de cimento, areia, água e aditivo, para garantir a segurança das obras”, explica.
Hoje, cerca de 30 mulheres trabalham na obra. Segundo Maria José, nunca houve problemas de relacionamento entre elas e os homens, as atividades são divididas igualmente entre todos e o respeito predomina no local de trabalho. Fora de lá, no entanto, nem sempre a inserção no mercado da construção civil foi bem recebida.
“Quando eu entrei na obra, muitos amigos riram e disseram que não teriam a coragem que eu tive. Mas me sinto muito bem com este trabalho, me sinto digna e valorizada. Estou pensando até em deixar o Direito de lado e entrar num cursos superior de Engenharia Civil. Gosto de desafios e estou me descobrindo aqui”, relata a supervisora Maria José Pedro da Silva.
