O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) lançou simultaneamente duas ações voltadas para a educação no campo, política condicionante para a realização da Reforma Agrária Popular que defende. Em Alagoas, os indicadores educacionais ainda carregam o estigma das altas taxas de analfabetismo e da falta de perspectiva para as juventudes. Com o pioneirismo da primeira turma do Projovem Campo Saberes da Terra e da Ciranda Infantil Dorcelina Folador, primeira creche em área de Reforma Agrária financiada pelo poder público, o MST firma sua posição para o desenvolvimento educacional do Estado.
As fortes chuvas que caíram na Zona da Mata não abalara a realização dos dois eventos que aconteceram respectivamente na manhã e na tarde desta segunda, no Povoado Ouricuri, região que concentra um grande número de assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária organizados pelo MST. “A política de educação no campo é uma das estratégias prioritárias do MST. De manhã lançamos uma Ciranda aos moldes de nossa pedagogia, para que no futuro não precisemos remendar as negativas do Estado com a juventude” comenta Débora Nunes, da Direção Nacional do MST. E acrescenta: “a turma de Saberes da Terra, que lançamos à tarde, é uma conquista da luta destes trabalhadores, mas sobretudo uma necessidade gerada a partir da dívida do Estado que negou a eles uma escolarização”.
Ciranda Infantil
A inauguração da Ciranda Infantil Dorcelina Folador movimentou uma das agrovilas do assentamento Milton Santos, com participação de um grande número de assentados, mães e crianças e autoridades do poder público, entre elas o prefeito de Atalaia, Chico Vigário, vice-prefeito e secretários do município. A Ciranda Infantil é resultado de anos de pressão do Movimento sobre os poderes municipal e estadual, desde a Marcha Estadual de 2004, quando foi negociada com o Governo do Estado a construção do local.
A prefeitura é responsável, por sua vez, pela manutenção das oito educadoras que receberão as crianças do Povoado Ouricuri, oriundas ou não de acampamentos e assentamentos. As crianças terão acesso à recreação, à alimentação e a uma vivência pedagógica baseada nos princípios da educação do campo (a mística Sem Terra, o aprendizado prático, a crítica social, etc). A ciranda é estruturada pelo Estado e gerida político-pedagogicamente pelo coletivo de Educação do MST, através das práticas da coletividade e horizontalidade e da problematização das questões da infância.
Dorcelina Folador, que nomeia a Ciranda Infantil, foi uma militante das causas populares que viveu em Mundo Novo-PR até 1999, quando foi assassinada na varanda de casa pelo incômodo que causava nas elites da região. Dorcelina era professora, poetiza, artista plástica e foi a primeira portadora de deficiência, e militante do MST a governar uma cidade no Brasil. Iniciou sua trajetória de lutas na Pastoral da Juventude, participou da fundação do PT no Paraná e chegou à Direção Estadual do MST no Estado.
Saberes da Terra
No auditório do Centro de Formação Zumbi dos Palmares foi lançada, no mesmo dia da Ciranda Infantil, a primeira turma de Alagoas do Projovem Campo Saberes da Terra, dando continuidade a uma política de escolarização que qualifica a luta dos trabalhadores rurais por seus direitos. Hoje, a estratégia do MST consiste em não somente criar alternativas reais de produtividade, cooperação e agroindustrialização, com os cuidados necessários com a Terra, como também na escolarização de todas as faixas etárias e em todos os níveis de conhecimento, da Ciranda à Universidade.
O Projovem Campo Saberes da Terra é uma política do Governo Federal lançada em 2008 voltada para a conclusão do Ensino Fundamental. Em Alagoas, a turma coordenada pedagogicamente pelo Coletivo de Educação do MST é a primeira a iniciar. Nas palavras do educando Antônio Silva, “depois de muita luta, de levar a pauta várias vezes para o Governo, conseguimos essa vitória, já que fomos tirados (os direitos) e não completamos nossos estudos”. “Toinho” salienta que o Movimento tem uma luta muito grande na educação “e assim conquistamos esse espaço”.