Durante o Emergências, encontro de cultura, ativismo e política realizado pelo Ministério da Cultura (MinC) de 7 a 13 de novembro, 18 comunidades e regiões do Rio de Janeiro foram ocupadas com atividades culturais. Os percursos abriram uma série de possibilidades dentro da programação do evento e propiciaram vivências únicas em consonância com as realidades locais das periferias de uma das maiores cidades brasileiras, valorizando e dando visibilidade à produção cultural desses territórios. O envolvimento com as comunidades começou semanas antes do evento, em visitas e reuniões abertas que envolveram produtores, artistas e demais grupos das regiões para montar a programação e debater a proposta dos percursos.
Uma semana após o evento, a Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC voltou a esses territórios para realizar, com participação das comunidades, uma avaliação das atividades realizadas, bem como firmar parcerias para 2016. “Existe um circuito cultural nas favelas, percursos e ações que ainda não ganharam visibilidade no Rio cartão postal”, destacou a secretária Ivana Bentes. Durante quatro dias, de 20 a 23 de dezembro, ela realizou visitas ao Morro dos Prazeres, Cidade de Deus, Complexo do Alemão, Pavuna, Baixada Fluminense, Rocinha e Babilônia.
Durante as visitas, Ivana Bentes comprovou que a qualidade e a diversidade da produção das favelas são essenciais para a dinamização da cultura brasileira e devem ser foco das políticas culturais do MinC. “Olhando a quantidade de atividades, a vontade de fazer e protagonizar, a precariedade de equipamentos públicos e, ao mesmo tempo, a vista deslumbrante, a quadra de futebol, a laje, o bar, a brisa, os espaços de convivências nas favelas, a gente entende a urgência de o Ministério chegar às periferias do Brasil”.
As visitas também demonstraram o papel civilizatório da cultura, que possibilita profissionalização, empreendedorismo e protagonismo de jovens da periferia por meio da produção cultural. “Apesar de ser um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do Rio de Janeiro e uma das comunidades mais violentas da Zona Norte, visto daqui, nós somos um território pulsante de cultura”, afirma Jovem Cerebral, morador da Pavuna e um dos articuladores responsáveis pelos percursos durante o Emergências.
No Complexo do Alemão, a visita foi ao Ponto de Cultura Verdejar, grupo que trabalha com agroecologia, hortas urbanas, economia solidária, rodas de cultura do rap e produção audiovisual. “É impressionante como a inovação social é parte do cotidiano das favelas do Rio, inventando modos de vida e trabalho vivo em territórios vulneráveis”, avalia Ivana Bentes, ao conhecer um pouco mais da iniciativa. Já na comunidade da Rocinha, 140 fazedores de cultura da região se mobilizaram para participar das atividades do Emergências e a visita da secretária incluiu diferentes empreendimentos, como a Escolinha de Surf da Rochinha e a Biblioteca Parque.
Em 2016, o diálogo com grupos, coletivos e entidades culturais continuará. “Queremos fazer novos percursos também durante outros eventos do MinC, articular redes, coletivos e movimentos para conhecer as produções de diferentes comunidades que não são evidenciadas pela mídia e debater políticas culturais para esses territórios”, adianta Ivana Bentes.