O candidato a vice-governador na chapa da Frente Popular por Alagoas, Joaquim Brito (PT), desafiou, na tarde de ontem, o governador Teotonio Vilela (PSDB) a autorizar o Superior Tribunal de Justiça a dar seguimento no processo que move contra ele. A ação do STJ é resultado da denúncia formulada pelo Ministério Público Federal contra 61 pessoas, por conta da célebre “Operação Navalha”, desencadeada pela Polícia Federal, em 2006. Identificado pelo MPF como “sofisticado grupo criminoso” liderado pelo empreiteiro Zuleido Veras, da construtora Gautama.
“O Teotonio foi apontado como beneficiário do esquema de corrupção montado por Zuleido, através de contratos superfaturados. É o Ministério Público Federal quem conclui que ele recebeu meio milhão de reais em forma de propina. O MPF vai aos detalhes: foram dois pagamentos de R$ 200 mil e um de R$ 100,00, feitos na tal da ‘casinha amarela’, localizada na rua Albino Magalhães, 105, no Farol, de propriedade da esposa do governador. Tudo com fotos, agendas e degravações de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça”, explica Brito.
Segundo Brito, Teotonio pouco se pronunciou sobre a “Operação Navalha” até hoje.
“Nos raros momentos em que assim procedeu, disse estar tranqüilo e que tudo será esclarecido”, informou. “Pois bem, desafio ele a passar tudo a limpo e mostrar que não tem culpa no cartório. Basta autorizar o STF a continuar com o processo que o envolve”. Joaquim Brito disse que teve conhecimento das dezenas de páginas da denúncia do MPF.
“As acusações são contundentes. Em determinado momento, o Ministério Público Federal aponta o governador como um personagem importante e que contribuiu para a consumação do esquema de superfaturamento de obras públicas. Ele é acusado no processo por formação de quadrilha, peculato e corrupção passiva”. Joaquim Brito vê a carreira política do governador moralmente comprometida. “Ele precisa demonstrar à sociedade que realmente está tranqüilo e que não chafurdou nessa lama de corrupção revelada pela “Operação Navalha”.
Embora aguarde, “com certa ansiedade”, como disse, uma resposta do governador Teotonio Vilela ao seu desafio, Joaquim desconfia que o tom em torno do assunto já foi dado por ele próprio, ao orientar sua bancada majoritária na Assembleia Legislativa a engavetar o pedido de abertura de processo, feito pelo STJ. “Como ele tem foro privilegiado como governador, o processo só andaria com autorização legislativa, e isso não aconteceu. Joaquim vai ainda mais longe na sua posição:
“Não há como deixar de associar o sobrestamento do processo contra o governador a dois fatos: primeiro, a transferência generosa de duodécimo duplo, numa operação bancária discreta, ocorrida em janeiro passado, entre a Secretaria da Fazenda e a conta da Assembleia Legislativa”. A transferência de dois duodécimos, como menciona Joaquim, aconteceu nos dias 5 e 20 de janeiro, totalizando R$ 18,9 milhões. O fato só veio à tona no último mês de maio, quando o presidente da Casa, Fernando Toledo (PSDB), e o próprio governo, pressionados pela imprensa, admitiram a operação.
“E, Segundo, ao que ficou conhecido como “Mensalão da Assembléia”, que se traduziu na escandalosa cessão de vinte cargos em comissão para cada deputado governista, como foi denunciado pelo próprio deputado Dudu Albuquerque (PSDC), que, ao perder a vantagem obtida por votar nas matérias de interesse do Palácio, denunciou o esquema, que ainda desobrigava os beneficiários das funções de prestarem qualquer tipo de serviço ao Estado. Esse escândalo, inclusive, virou processo no Ministério Público Estadual”, concluiu Joaquim Brito.