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Iphan: relevância social é fundamental para garantir preservação do patrimônio histórico

O maior risco do patrimônio histórico brasileiro é perder a relevância para a sociedade, na opinião do presidente do Instituto Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida. Em entrevista à Agência Brasil, ele afirmou que para ser preservado, “o patrimônio deve permanecer socialmente importante, simbolicamente importante”.

Na mesma linha de raciocínio, a pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas, Maria Tereza Paes, complementa: “O patrimônio só faz sentido se tem ressonância para a população. Se ele não tiver valor para população ele não merece nem ser tombado. Porque não é uma ferramenta política que vai dar ao bem algum valor cultural, ele tem que ter valorizado pela própria população”, avaliou.

No entanto,o coordenador de projetos da Defesa Civil do Patrimônio Histórico (Defender), Telmo Padilha, destaca que é fundamental haver conscientização da importância das raízes históricas para que haja interesse em manter os símbolos materiais do passado . “Enquanto nós não tivermos como matéria transversal a Educação Patrimonial, não vamos conseguir fazer com que o cidadão entenda o valor do patrimônio”.

Segundo Padilha, essa importância vai além das construções. “Conservar o patrimônio traz um retorno muito grande para a sociedade. Traz conhecimento, auto-estima e respeito pela história, não tem preço”, disse.

Outro fator decisivo para a manutenção dos sítios arquitetônicos e urbanísticos, na opinião de Tereza Paes, é que as áreas sejam ocupadas e usadas pelas pessoas do lugar. “Se você não tem população efetivamente vivendo nessas áreas, elas viram cenários. Se elas viram cenários, elas não são nem preservadas. Porque não tem uma população que efetivamente lhe de valor. A não ser turista que imprime um uso efêmero aquelas paisagens”, afirmou.

Ela pondera entretanto que muitas vezes, apesar de a população local ter interesse nas áreas com valor histórico, não é capaz de competir com a força da especulação imobiliária. “No centro de São Paulo a gente teve um movimento fortíssimo dos moradores de rua, com a várias associações. E hoje a gente sabe que eles foram vencidos. Nós temos uma outra proposta hoje para o centro de São Paulo”, lembrou.

Por isso, a pesquisadora ressalta a importância de haver programas de governo voltados para a preservação desses bens associados à inclusão social. “Se não houver vontade política, planos, programas, essa população dificilmente consegue fazer valer a sua vontade”, destacou.

Atualmente, o governo federal põe em prática o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) voltado para as cidades históricas. O presidente do Iphan disse que se trata de um “projeto estruturador”, que trabalha a partir de um “conceito transversal”. De acordo com ele, 140 cidades já enviaram diagnósticos para serem incluídas no programa.

Segundo Almeida, o PAC pretende elaborar estratégias de desenvolvimento baseadas no patrimônio histórico, como forma de dar sustentabilidade econômica e social aos sítios.

Para abranger a grande quantidade de bens com valor arquitetônico e cultural, Telmo Padilha, afirma ser necessário, além do projeto federal, o envolvimento do poderes públicos locais e a garantia legal de recursos para a manutenção desses imóveis e objetos. “Nós precisamos que os estados e municípios também façam seus PACs”.