A descoberta anunciada na quarta (4) pelos cientistas da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (Cern, sigla em francês) quanto à comprovação da existência da partícula subatômica Bóson de Higgs, considerada chave para entender a origem do universo e a formação da matéria, foi acolhida com entusiasmo pela Sociedade Brasileira de Física (SBF).
“É inquestionável a descoberta dessas partículas. Não tenho a menor dúvida que isso é uma descoberta concreta e real. A gente estava esperando há muito tempo [pela comprovação] e não duvida disso”, disse à Agência Brasil Ronald Shellard, vice-presidente da SBF e pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, no Rio de Janeiro. Para ele, “a descoberta coroa uma das maiores aventuras do espírito humano” e é “um feito muito maior do que o homem ter ido à Lua”, compara.
Para Shellard, a descoberta é parte de um enorme “quebra-cabeça de como que é a matéria”. “É a última peça que faltava verificar experimentalmente”, destacou. A partícula Bóson de Higgs tem esse nome em homenagem ao físico escocês Peter Higgs, um dos primeiros a especular sobre a existência da partícula, em 1964.
A existência do Bóson de Higgs foi cogitada há cerca de 50 anos, quando a teoria chamada Modelo Padrão sobre o funcionamento do universo especulou que o cosmo foi resfriado após o Big Bang e uma força invisível, conhecida como Campo de Higgs, formou junto de partículas associadas os tais bósons de Higgs, que transferiram massa para outras partículas fundamentais de todas as matérias que conhecemos.
O pesquisador detalha que a partícula não explica o universo, mas é um componente que traduz como a matéria funciona, como a matéria se relaciona. “Porque que a gente existe, porque não existem outros universos que sejam feitos de submatéria. É um componente nesse quadro de explicação sobre como a natureza se organiza.”
Ele acrescenta que a descoberta, ainda no âmbito da ciência básica, é extremamente importante para o cotidiano porque a verificação desenvolveu uma série de tecnologias que poderão ter aplicação rápida, por exemplo, nos equipamentos de diagnóstico clínico. “O conhecimento alimenta nossas noções sobre como é a estrutura do universo, mas a consequência imediata são as tecnologias associadas que foram sendo concebidas para poder chegar a essa descoberta.”
O vice-presidente da SBF ficou ainda mais entusiasmado porque a descoberta acontece depois de o Brasil ter solicitado oficialmente a participação com membro associado do organização europeia (que funciona na Suíça). Muitos brasileiros, como o próprio Shellard, já trabalharam na organização, mas a inscrição do país como associado eleva o status da contribuição brasileira e pode render bons resultados para a indústria nacional.
“A descoberta se deu em um bom momento, momento em que o Brasil se move para se tornar um membro da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear ; que o país é visto como parceiro e protagonista da ciência. A participação dos cientistas brasileiras marca um rito de passagem”, avaliou. “A vantagem é estender o benefício aos cientistas nossos e à indústria que poderá participar de licitações e processos que ocorrem no organismo.”
A entrada do Brasil ainda depende da aprovação do próprio organismo e posteriormente de aprovação do Congresso Nacional. A expectativa da SBF é que no primeiro semestre de 2013 o Brasil já seja membro da entidade.