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Índio ou Mestre Vieira: um artista penedense

Presos seguem para Maceió

José Carlos Vieira da Silva, ou simplesmente Índio como é conhecido em Penedo, é também Mestre Vieira, o artista das esculturas em madeira. O homem que tem muitas histórias para contar.

Índio descende da nação Cariri, de Paulo Afonso. Segundo ele, com a construção da Hidroelétrica em sua região, sua tribo foi praticamente dizimada pelos estrangeiros que ali chegaram, em nome do progresso. Temendo perder a vida, seus avós mudaram-se para a cidade de Penedo.

Índio nasceu no bairro denominado Barro Vermelho. Menino levado e desobediente, como muitos que estão por aí, diz que nunca chorou – as mágoas guardava no peito – e que se lembra de um conselho que seu pai lhe dava: “só se case depois que suas irmãs casarem”, ele pensava – e se uma delas não casar nunca?

A arte esteve presente em sua vida desde a infância, relembra os autos que participara no Lar de Nazaré do Padre Aldo. As temáticas eram as histórias de trancoso, as lendas do Saci Pererê, da Mãe da Lua e do Negro D’água.

Conheceu seu primeiro amor, com a idade de onze anos, era um amor proibido, a moça bem mais velha que ele e filha de valente fazendeiro. Com medo de ser assassinado pelo sogro, Índio fugiu para Sergipe e de lá foi para o Rio de Janeiro tentar a carreira no futebol. Desejava ser jogador do Flamengo, não obteve o sucesso almejado. Tornou-se então, pizzaiolo, sempre gostara de cozinhar, e foi ficando no Rio de Janeiro.
A saudade da família e de Penedo era forte, resolveu voltar. Aqui chegando, começou a frequentar os programas de calouro da emissora Radio Rio São Francisco, imitava o Rei Roberto Carlos. Andava de lambreta pelas históricas ruas da cidade, fazendo o maior sucesso com as moças de então. Eram os anos sessenta, as músicas de Renato e Seus Blue Caps embalavam os bailes da época.

O envolvimento com uma garota tornou-se mais sério, teria de casar, ele era adepto da frase: “se casamento fosse bom, não precisava de testemunha”. Fugiu do casamento, dessa vez foi embora para São Paulo. Lá viveu muitas aventuras e exerceu diversas profissões.
As cartas recebidas da avó traziam escrito sempre o mesmo pedido, seu retorno para Penedo, resolveu voltar a passeio. Encontrou a moça hospedada na casa de sua avó, pois esta a havia acolhido, desde quando ele fora embora fugindo da responsabilidade. Casou-se com a moça a contra gosto, retornou a São Paulo e não levou a esposa. Lá começou a refletir sobre a situação, mudou de ideia, a cidade era muito fria e uma costelinha quente faria diferença, trouxe a esposa para São Paulo e com ela teve duas filhas. O casamento acabou. Logo depois se envolveu amorosamente com uma prima e com ela também teve duas filhas.
Na época do surgimento da AIDS trabalhava numa boate em São Paulo, os negócios ficaram difíceis, resolveu voltar para sua terra natal, trouxe bastante dinheiro, mas aqui chegando, as coisas também não estavam fáceis.

O dinheiro acabou, trabalhou em usina, vendia pão nos arredores da cidade montado numa bicicleta. Cada dia que passava as dificuldades aumentavam. Decidiu voltar novamente para São Paulo, já estava de mudança pronta.

Prometeu à filha mais velha, a Lili, que confeccionaria uma pequena canoa em madeira para ela brincar, sabia que quando se promete algo para uma criança deve-se cumprir o prometido, senão a criança irá se tornar um adulto mentiroso e enganador, tal qual, o adulto que lhe mentira. Foi à casa de seu tio, que também era seu sogro e um exímio fazedor de canoas, lá chegando, encontrou a madeira perfeita para o feitio da canoa, o tio não queria disponibilizar a madeira achava-o incapaz de executar tal proeza. Mas, Lili começou a implorar ao avô para que doasse a madeira, e este não resistiu aos apelos da neta.
A canoa ficou linda, uma verdadeira obra de arte, dava gosto de ver. No dia da partida fora com as filhas tomar banho nas águas do Velho Chico, queria se despedir do Rio, sabia que demoraria a voltar, levou a canoa para conhecer o rio. La chegando, encontrou um turista alemão, que ficou encantado com a canoa e de pronto quis comprá-la, não queria vender, afinal era presente de sua filha. O turista não se conformava e resmungava: – Só volto para Alemanha com essa canoa!

Em casa contou a história para esposa que reclamou: – Você devia ter vendido! Por acaso encontrou o turista alemão no outro dia, pediu um alto valor pela canoa, o turista não titubeou e comprou-a. As meninas choravam, não queriam ficar sem a canoa, o turista então repartiu uma bela gorjeta entre elas e foi embora levando a canoa para Alemanha. E assim, Índio descobriu que tinha um dom para a arte de esculpir em madeira e desistiu de ir embora. A arte tornou-se seu meio de vida até hoje, e ele nunca mais precisou deixar sua querida Penedo.

Viveu maritalmente onze anos com a prima, nunca disse para mulher nenhuma: “eu te amo”, para ele, amor de verdade só a Deus e à Mãe, “porque mãe faz tudo por um filho, já o pai pode ser qualquer um”.
Na sua descendência só há mulher, são: quatro filhas, duas netas e uma bisneta, acha que é castigo divino pelo muito que aprontou na juventude. Ainda acalenta o sonho de ter um filho homem.

Depois que apareceu em reportagem da TV Gazeta e TV Record percebeu que está sendo mais valorizado e reconhecido como artista. Hoje, faz parte do guia turístico de Penedo e há foto sua postada no portal da Prefeitura da cidade. Quem quiser conhecê-lo, ouvir suas histórias e apreciar sua arte, pode encontrá-lo esculpindo suas criações, sentado na calçada de sua casa, que fica ao lado da Radio Rio São Francisco.