Existem pessoas de uma ingenuidade tal que chegam a beirar a demência e a debilidade mental. O casal acima, com idade acima de sessenta anos quando aconteceu a divertida história, enquadra-se perfeitamente nesse perfil. A mulher, em especial, além de analfabeta, pronunciava as palavras como uma criança, como da mesma forma reagia a tudo. Por exemplo, para informar sobre o desaparecimento de um rádio portátil, dizia que tiraio, levaio, carregaio, com a maior naturalidade.
Aconteceu, é claro, no povoado Serrão de tantos “causos” na década de sessenta. A principal atividade era o plantio de arroz. Fancico e Véia, como mutuamente se tratavam, cultivavam uma pequena área à altura de suas forças, sem ajuda de terceiros. Tratava-se de uma atividade que tinha inicio no inverno e a colheita no verão.
Era comum os trabalhadores construírem ranchos no meio da lavoura para se protegerem das intempéries da natureza. Serviam também para fazer o almoço e depois, estômago cheio que estimula o relaxamento, uma merecida soneca. Não havia o menor conforto para esse indispensável repouso. Sequer uma cama de varas e um colchão recheado de capim, comum na época. Resumia-se a uma esteira.
Francisco, apesar da idade, não estava sexualmente aposentado. Nas condições acima descritas, a mais pura rusticidade em matéria de conforto, não era nada fácil uma relação sexual por mais que se usasse a imaginação e a criatividade para torna-la prazerosa. Ora, o requinte do sexo está na imaginação, pra fazer uma combinação de carícias, fetiches e formas geométrica dos corpos para todos os gostos. Sem isso, sexo se animaliza, não passando da cobertura da fêmea no cio pelo macho. Sem as estimulantes fantasias sexuais, Francisco era apenas um animal.
Vamos ao fato. Antes, uma pergunta que deixa qualquer um embasbacado: como o Francico conseguiu transar com Véia que dormia profundamente numa esteira? Como costumava acontecer, o casal, após o almoço, resolveu puxar um cochilo. Ocorreu que Fancico despertou primeiro enquanto Véia continuou a dormir o sono dos anjos. Não se sabe porque, o Fancico sentiu desejo de fornicar Véia. Mas como iria conseguir se a Véia dormia? O que teria despertado a libido de Fancico? Será que Véia estava mostrando uma parte íntima do corpo que deu fogo ao instinto para dar uma rapidinha na esperteza? Será que estava sem calcinha e exibia o pecado? Se não estava, como conseguiu tirar sem despertá-la? Sem mais perguntas sem resposta, a verdade é que Fancico conseguiu, certamente, pela magia, satisfazer seu intento. Algum tempo depois Véia acordou. Sentiu algo estranho e pegajoso entre as coxas. Então, com a mais pura inocência, pergunta: Fancico, andaste por aqui? Não foi, Véia! Ah, porque ta um meeio.
Acredite se quiser, mas que aconteceu, não há dúvida.