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Cultura

Homem da Meia-Noite arrasta milhares de foliões em Olinda

Vai chegando a meia-noite de sábado (13) e milhares de pessoas saem às ruas para acompanhar o cortejo de um dos mais famosos blocos de carnaval da cidade, o Homem da Meia-Noite. De chapéu, fraque e a chave do carnaval de Olinda, o calunga é reverenciado a todo instante, desde o início do desfile, na Rua Bonsucesso.

Na madrugada de hoje (14) o Homem da Meia-Noite arrastou, segundo dados da Polícia Militar, mais de 250 mil foliões. As pessoas se apertam em meio às ruas estreitas da cidade e aguardam a passagem do bloco pendurado em janelas e nos monumentos. E a tradição ultrapassa a brincadeira do reinado de momo e mistura misticismo e religião.

De acordo com o presidente do clube do Homem da Meia-Noite, Luiz Adolfo Alves de Silva, o personagem nasceu no dia 2 fevereiro de 1932, de uma dissidência da troça Cariri de Olinda, que abria, até então, o carnaval na cidade no começo da manhã de domingo.

“O Homem da Meia-Noite nasceu dessa dissidência, como uma questão mística de ter nascido no dia de Iemanjá e é considerado uma figura mística do candomblé. Por isso ele não é um boneco, e sim um calunga”, disse.

No imaginário popular de Olinda, o Homem da Meia-Noite, na verdade, foi um homem forte que à meia-noite, vestido de verde, com chapéu, pulava a janela das donzelas para namorar. “Ele era um grande namorador”, afirmou.

E tem gente na cidade que jura ter visto o Homem da Meia-Noite. A aposentada Maria Expedita do Nascimento, de 78 anos, que mora ao lado da sede do bloco, onde o calunga é montado todos os anos, contou à Agência Brasil que o local foi escolhido porque o antigo proprietário do imóvel viu o espírito do personagem.

“Quando mudei para cá, ainda não era sede, era um oficina cheia de mato. Depois colocaram ela aí porque o vizinho viu o Homem da Meia-Noite no campo”, disse. Encantada com a passagem do calunga, dona Maria resumiu o cumprimento do personagem como uma benção.

“Sou colega dele”, brincou. “É maravilhosa a passagem dele, a continência que ele faz para gente. Uma coisa seríssima. Uma benção, um espetáculo, uma coisa de outro mundo”, descreveu a aposentada.

E é mesmo a fé que move os apaixonados pelo Homem da Meia-Noite. O vigia Pedro Garrido da Silva carrega os 49 quilos, o peso do boneco gigante, pelas ruas de pedra e as ladeiras da cidade com disposição e sem demonstrar cansaço. “É uma grande satisfação. Faço isso há 20 anos. Estou muito bem, tranquilo”.