Os números ainda são altos. Apesar dos avanços femininos na luta por seus direitos, a mulher ainda continua sendo a maior vítima da violência doméstica. A afirmação é da médica Maria das Mercês Pereira, coordenadora do Núcleo de Epidemiologia do Hospital Geral do Estado (HGE). O serviço registrou, no ano passado, 382 casos de violência doméstica, sexual ou autoprovocada (suicídio).
A notificação de suspeita de casos de violência é obrigatória para todos os profissionais dos serviços de saúde públicos e privados, conforme preconizado pela portaria 104, publicada pelo Ministério da Saúde no último mês de janeiro. No HGE, o Núcleo de Epidemiologia promoveu capacitações para sensibilizar a equipe multiprofissional sobre a necessidade da anotação na ficha ou prontuário do paciente de qualquer suspeita de maus tratos, principalmente contra mulheres, crianças, adolescentes e idosos.
De acordo com Maria das Mercês Pereira, os dados sobre violência doméstica se constituem em instrumentos gerenciais que possibilitam aos gestores de saúde, das três esferas de governo, a implementação de medidas para diminuir a incidência de vítimas. “Ao conscientizar os profissionais que atuam no hospital sobre a importância da notificação, estamos contribuindo para reduzir os índices alarmantes que são veiculados na mídia e colaborando para a sobrevivência mais digna das vítimas”, destacou.
Ela explicou que apesar do HGE ter registrado 382 casos de violência em 2010, quem for conferir os números no Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação (Sinan) encontrará somente 195 notificações. “A diferença ocorreu porque o Núcleo de Epidemiologia do HGE começou a notificar antes da instalação do sistema na unidade. O mais importante é que já dispomos de uma ferramenta de trabalho que vai orientar as ações de vigilância epidemiológica em Alagoas”, justificou.
A interação entre os profissionais das unidades de saúde, sobretudo do HGE, visando o preenchimento correto dos boletins de emergência é fator decisivo para garantir a detecção e notificação da violência doméstica. “Ainda temos dificuldades na busca das informações, por isso apelamos a todos os profissionais para que façam anotações precisas nas fichas e prontuários do paciente”, ressaltou a coordenadora, acrescentando que os dados sobre violência já foram publicados no boletim epidemiológico do HGE.
Saber para onde encaminhar a vítima é fundamental para evitar constrangimentos e garantir que o paciente seja atendido por um serviço especializado. A rede de assistência é composta pelo Centro de Apoio às Vítimas de Crime em Alagoas (CAV Crime), Conselho Tutelar, Maternidade Santa Mônica e Defensoria Pública.