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Cultura

Grupos percussivos e blocos femininos fortalecem luta contra assédio nas ladeiras de Olinda

Mulheres mostram força em grupos de percussão nas ladeiras de Olinda

Combater a violência contra a mulher, sobretudo no carnaval, é o objetivo de uma ação que foi realizada neste domingo (2), em Olinda. Para garantir mais força para esta iniciativa, os grupos percussivos formados por integrantes do sexo feminino estão abordando o tema, a cada desfile pelas ladeiras do Sítio Histórico, durante as prévias.

Para quem curte a festa, o assédio já é praticamente parte do carnaval. Ele surge, na maioria das vezes, em forma de puxões no braço ou de piadas.

“Isso acontece bastante, inclusive quando estou acompanhada do meu marido, mas não vou acabar meu carnaval por isso. Só que se você pensar bem, é uma coisa muito chata”, disse a enfermeira Diana Sampaio, que curtia as prévias em Olinda acompanhada de um grupo de amigos neste domingo (2).

Há, no entanto, problemas mais graves. Com relatos recentes de casos de violência na Cidade Alta, sobretudo contra mulheres transexuais e homossexuais, o Centro Especializado de Referência de Violência Contra a Mulher de Olinda levou agentes até a Praça Maxambomba, no Carmo, para distribuir panfletos e conscientizar foliões.

A ação foi realizada neste domingo (2) justamente pela intensificação das atividades carnavalescas. “Queremos mostrar que a violência contra a mulher precisa acabar. Em Olinda, o Centro funciona 24 horas por dia e pode atender mulheres trans, lésbicas e heterossexuais”, disse a coordenadora Suely Araújo. O atendimento é feito na Rua Maria Ramos, 131, no Bairro Novo.

Mesmo indiretamente, os grupos compostos majoritariamente por mulheres reforçam as ações de proteção na folia. É o caso do Tambores de Saia, grupo percussivo fundado em 2018.

Entre enfermeiras, professoras, advogadas, psicólogas e parteiras, o grupo tem 77 mulheres e outros quatro membros homens, responsáveis pelo apoio ao grupo. “Estamos ensaiando há oito meses e tudo tem sido muito tranquilo. Temos mulheres de várias orientações sexuais e todo mundo se respeita”, disse Mariana Fontes, membro da diretoria.

Segundo Maria Betânia Agostinho, outra diretora do grupo, o apoio para os desfiles vêm não só de dentro, mas também de fora do grupo. “Os nossos maridos são muito companheiros e nos incentivam a vir. Quando desfilamos, eles nos entregam água e dão um suporte muito grande. Isso também nos fortalece e nos ajuda a estar aqui”, afirmou.

Não é preciso caminhar muito para encontrar, no Sítio Histórico, outro grupo formado por mulheres. Em 12 anos de fundação, as Sambadeiras realizam neste domingo (2) o primeiro baile da história do grupo percussivo, acreditando que a união feminina é uma das principais fontes de força do grupo, além do amor pelo carnaval.

“Nunca vivenciamos uma situação de assédio no nosso grupo, mas somos um número grande, esse ano temos 140 mulheres. Isso faz com que os homens não abordem as mulheres de qualquer jeito porque estamos juntas, tocando. Nossa ideia é mostrar que a mulher pode, sim, usar um short curto, o homem é quem precisa mudar seu pensamento em relação a isso”, disse a presidente do grupo percussivo, Julieta Mergulhão.

A policial civil Paula Woortman também endossa a luta para combater o assédio nos dias de Momo. “Quero mostrar que o beijo forçado é um crime e estou saindo no carnaval em prol dessa mensagem”, afirmou.