Pesquisadores durante trabalho na praia de Ponta Verde
É a maré baixa! Já afirmava grande parte dos alagoanos diante de um vídeo, que circulou bastante nas redes sociais no final de fevereiro, em que se levantava suspeitas sobre a possibilidade de ocorrer um tsunami na orla de Maceió. Apontando para o fenômeno da maré baixa, especificamente na região do Farol da praia de Ponta Verde, ponto turístico da capital alagoana, a gravação questionava o grande recuo das águas do mar, o que acabou provocando temor e insegurança na população.
O professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Henrique Ravi Almeida, é líder do Grupo de Estudos Integrados ao Gerenciamento Costeiro (Geigerco) e explica que o ocorrido é um movimento natural de subida e descida do nível do mar, sem nenhuma relação com tsunami. “Em Alagoas, esse movimento ocorre duas vezes por dia, com intervalos aproximados de seis horas entre o nível alto, denominado de preamar, e o baixo, chamado de baixa-mar”, esclareceu o docente. E continua: “Essas marés são denominadas de marés semidiurnas e sua amplitude, diferença entre o nível de preamar e baixa-mar, é de, no máximo, dois metros”.
O pesquisador ainda cita a influência do Sol e a da Lua sobre esse fenômeno. “Essa maré é influenciada, diretamente, pelas forças de atração do Sol e, principalmente, da Lua sobre nosso planeta, sendo denominadas de marés astronômicas. Visto que as fases da Lua, as maiores preamares e baixa-mares ocorrem nos momentos de Lua cheia e nova, sendo esse movimento natural e denominado de maré de sizígia”, informou.
Ao falar sobre a extensão do recuo do mar em Maceió, o professor Ravi informa que, realmente, há registros recentes de recuo de um quilômetro ou mais em trechos do litoral da capital, mas ele ressalta que os recuos do mar não ocorrem de forma igual em toda a extensão litorânea. “Isso depende da altitude da plataforma continental rasa, ou seja, da superfície do leito marinho, principalmente, próximo à costa, bem como da localização geográfica da região e do regime de marés”, disse.
E esclarece: “Um exemplo são as macromarés registradas no extremo Norte do país, com grandes amplitudes de marés. Já no extremo Sul, ocorrem micromarés. No caso de Ponta Verde, no local onde apresentou este recuo do mar superior a outras regiões próximas, a plataforma continental rasa possui relevo horizontalizado, com baixa declividade, e com altitude batimétrica [profundidade do mar] inferior a outros trechos do litoral da mesma praia, o que provoca sempre um recuo maior nesta região do que em outras, até mesmo em marés que não ocorrem em Lua cheia ou nova”.
Ainda sobre o teor do vídeo divulgado, o pesquisador afirma que “o argumento de que o mar recuou mais de um quilômetro no litoral da praia de Ponta Verde é falho, visto que ela possui mais de seis quilômetros e apenas nesta pequena região onde há o Farol, com extensão inferior a um quilômetro, é que ocorre este recuo extenso, que pode alcançar um ou mais quilômetros, principalmente, em marés de sizígia”.
Ele acrescenta que as marés de sizígia ocorrem da mesma forma, ou até de maneira mais intensa, em trechos do Litoral Norte de Alagoas, podendo chegar a mais de dois quilômetros em marés negativas. Como exemplo, o professor cita os grandes recuos observados no período de baixa-mar nas praias de Paripueira, Japaratinga e Maragogi.
O pesquisador ainda comenta que, nos vídeos disseminados nas redes sociais, há a alegação de que o mar em Maceió nunca recuou tanto como foi registrado este ano ereforça que “a maré sempre baixa muito em marés negativas, porém o recuo depende das características da plataforma continental rasa em um determinado local, sendo que este evento ocorre normalmente durante o ano”.
E orienta: “Quem vive no litoral já está acostumado com o recuo mais intenso em determinadas regiões. Para saber o momento que haverá as maiores baixa-mares, é só consultar a tábua da maré disponibilizada pela Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil.”
Ele aproveita para fazer o alerta sobre o perigo de compartilhar e dar créditos a informações sem embasamento. “O que chama a atenção destes vídeos é que muitos são gravados por pessoas que não residem em Alagoas, principalmente, turistas que não percebem a dinâmica da maré durante o ano. Outros vídeos são gravados por pessoas leigas, objetivando gerar pânico na sociedade”, alertou.
Fato esclarecido! Como explicado pelo pesquisador, o movimento de maré baixa já é bastante conhecido por moradores e pescadores da capital alagoana que aproveitam as águas baixas para caminhar e conhecer a beleza do local. Agora, quem for curtir a baixa-mar, é importante observar o horário que a maré volta a subir para garantir o retorno com segurança.
