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Alagoas

Governo homenageia família do metalúrgico Manoel Fiel Filho

Documentário retrata os horrores da ditadura militar

A família Fiel desembarca em Alagoas nesta sexta (28) para prestigiar a estreia do documentário Perdão, Mister Fiel. O filme conta parte da trajetória de luta do metalúrgico alagoano Manoel Fiel Filho, natural de Quebrangulo, falecido em 1976. O governo do Estado vai homenagear o operário nesta sexta-feira (28), no Cine Sesi Pajuçara, com o lançamento do curta e contará com a presença da viúva, das duas filhas e de dois netos de Manoel Fiel Filho.

A homenagem é o principal motivo de Márcia Fiel, de 50 anos, filha do operário, visitar Alagoas pela primeira vez. “Estamos todos muito felizes e ainda mais orgulhosos de meu pai. Na morte dele, nós sofremos muito, ficamos verdadeiramente arrasados, porque foi muito chocante. Essa homenagem que será concedida pelo governo de Alagoas significa muito para nós, pois é uma forma de reconhecimento à luta do meu pai por um Brasil melhor”, ressaltou.

O documentário do cineasta alagoano Jorge Oliveira é baseado na história de Manoel Fiel Filho na época da ditadura militar, em 1976. A obra destaca a tortura e morte do metalúrgico nos porões do DOI-Codi/SP. De acordo com a certidão de óbito do operário, ele provocou a própria morte, enforcando-se na prisão. Mas, segundo Márcia Fiel, isso é considerado um fato duvidoso, por isso, a família entrou com ação criminal para apurar a morte. “Infelizmente, a justiça brasileira arquivou o nosso processo”, revelou Márcia.

Diante disso, a família Fiel moveu outra ação, só que dessa vez contra a União Federativa do Brasil, com a intenção de conseguir da Comissão de Anistia indenização e pensão para a viúva. “Tivemos que lutar em busca de uma pensão porque não tínhamos como sobreviver. Éramos muito pequenas e minha mãe não trabalhava”, relembrou Márcia.

Ao longo de 36 anos, desde a morte do metalúrgico da fábrica Metal Arte de Mooca, em São Paulo, os familiares de Manoel Fiel Filho receberam diversas homenagens. “Entre as homenagens que foram concedidas ao meu pai, as mais marcantes até agora foram as dos sindicatos da categoria de São Paulo e de outras regiões. Por tudo isso, somos sempre muito orgulhosos do nosso herói Manoel Fiel”, frisou a filha mais nova.

Manoel Fiel Filho é o quarto personagem alagoano que inspira obras de Jorge Oliveira. De acordo com ele, o primeiro filme foi baseado na história real de Graciliano Ramos, natural de Palmeira dos Índios. Em seguida, ele escreveu um roteiro inspirado na história protagonizada pelos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. Mas os roteiros de Jorge Oliveira não param por aí. Segundo ele, o roteiro sobre a alagoana Nise da Silveira já está concluído e deverá ser rodado em janeiro de 2011.

“Alagoas é um celeiro de grandes personagens. Se você falar lá fora o nome de Aurélio Buarque de Holanda e de Graciliano Ramos todo o mundo sabe que eles são daqui. Então, não preciso sair da minha terra para mostrar ao Brasil o que temos. Após o lançamento de Perdão, Mister Fiel, vou me dedicar à conclusão da obra sobre Nise da Silveira”, disse Jorge Oliveira.

Quebrangulo – No dia seguinte à homenagem do Governo do Estado de Alagoas, sábado (29), a viúva Thereza de Lourdes, suas filhas, Cida e Márcia Fiel e dois netos seguirão rumo a Quebrangulo, cidade natal do personagem-título do documentário Perdão, Mister Fiel. O prefeito do município, Marcelo Lima, fará a exibição do filme em praça pública para que toda a população do município conheça a história de Manoel Fiel Filho.

Filme – O curta-metragem traz depoimentos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de Fernando Henrique Cardoso e de José Sarney. Além disso, o filme tem como trilha sonora músicas de Djavan e Aldir Blanc. Perdão, Mister Fiel conta ainda com o apoio do Governo de Alagoas. “A primeira vez que vou a Alagoas é para receber homenagens alusivas ao meu pai. Isso nos dá orgulho do Estado em que ele nasceu”, disse Márcia Fiel.

O diretor do filme, Jorge Oliveira, e a editora, Ana Maria Rocha, vão acompanhar as exibições do documentário de 95 minutos durante os dois dias em que vão ficar em Alagoas. “A história de Fiel Filho foi fundamental para a história da política do Brasil, porque foi justamente após a ditadura que veio a democracia. Além disso, nesse momento, quem governa o Brasil é um operário, ex-metalúrgico, por isso me interessei ainda mais em lançar o filme este ano”, destacou o autor.