Dia de Resistência da Religiosidade Afro-brasileiro será comemorado no dia 8 de dezembro
No ano em que se lembra o centenário do Quebra de Xangô – quando terreiros foram depredados e pais de santo, mortos -, os religiosos alagoanos de matriz africana ganharam um motivo para festejar: a criação do Dia de Resistência da Religiosidade Afro-brasileiro. A lei que inclui a data, 8 de dezembro, no calendário do Estado foi publicada no Diário Oficial desta sexta-feira (13).
A escolha aconteceu devido ao Dia de Iemanjá, historicamente comemorado pelos adeptos da crença em Alagoas, e, para o professor e historiador Sávio de Almeida, vai trazer mais liberdade para a realização dos cultos. “Isso é muito bom, pois vai fortalecer a tradição, impedindo episódios como os que já vimos, onde os seguidores foram impedidos de fazer suas oferendas”, diz.
Já o vice-reitor da Universidade Estadual de Alagoas (Uneal), Clébio Araújo, ressalta a importância da lei na luta contra o preconceito. “O ganho é, antes de tudo, simbólico, pois as pessoas poderão ser reeducadas para perceber que a sociedade tem também outras referências, que não só a católica de origem europeia. Tem um sentido educativo, de mudança de olhares”, expõe.
Ele acrescenta ainda a relevância histórica de estabelecer o Dia de Iemanjá como Dia de Resistência da Religiosidade Afro-brasileiro, principalmente no centenário do Quebra. Na opinião do professor, a data, assim como o pedido de perdão do Governo pelos atos de vandalismo ocorridos em 1912 e a criação do Conselho de Igualdade Racial, mostra um novo momento.
“Essa série de acontecimentos tem sido responsável pela concretização da abertura do diálogo e da consolidação de políticas públicas para essa parcela específica da população. Todo esse comprometimento mostra que a luta pelo reconhecimento dos direitos está sendo reforçada em Alagoas”, afirma o vice-reitor da Uneal.
A opinião é compartilhada pela gerente de Promoção e Políticas Públicas de Cidadania e Direitos Humanos da Secretaria da Mulher, Monica Carvalho. “O 8 de dezembro como dia da resistência é o reconhecimento e a valorização das nossas tradições. É perceber que o País é diverso e que Alagoas inicia uma série de ações que simbolizam o respeito às comunidades”, afirmou.
Datas diferentes
De acordo com Clébio Araújo, o Dia de Iemanjá pode ser celebrado em diversas datas, dependendo do Estado e da crença dos religiosos. Ele destaca que o 2 de fevereiro, quando também acontecem celebrações em diversos locais do Brasil, é considerado o Dia dos Deuses das Águas, mas que, em Alagoas, os maiores festejos acontecem mesmo em dezembro.
“Isso varia de acordo com a vertente da religião. A matriz nagô, da qual faz parte a maioria dos adeptos do território alagoano, utiliza o 8 de dezembro como data maior para as comemorações. No sincretismo, é o dia de Nossa Senhora da Conceição, mas, para a matriz nagô, não há relação. Esse sincretismo é mais forte na umbanda”, explica ele.
