A Organização das Nações Unidas (ONU) disse nesta sexta-feira que os palestinos na faixa de Gaza enfrentam uma grave crise de saúde e de falta de alimentos, em meio aos ataques israelenses, que prosseguem pelo sétimo dia consecutivo.
A situação é de “emergência crítica”, apesar do aumento no envio de carregamentos de ajuda humanitária, afirmou o coordenador de ajuda da ONU para o território palestino, Maxwell Gaylard.
De acordo com a ONU, há pelo menos 100 civis entre os mais de 400 palestinos mortos até agora em decorrência dos ataques, que também deixaram cerca de 2 mil feridos.
Israel afirma que os moradores da faixa de Gaza estão recebendo quantidade suficiente de comida e medicamentos. Em um comunicado divulgado nesta sexta-feira, o Ministério do Exterior de Israel disse que desde o início da operação militar contra a Faixa de Gaza, no último sábado, 335 caminhões carregados com 7,8 mil toneladas de ajuda humanitária foram entregues no território.
A nota afirma que Israel está trabalhando em conjunto com organizações internacionais em Gaza e com outros governos “para avaliar as necessidades humanitárias… e oferecer a resposta necessária”.
No entanto, segundo o representante da ONU, “é verdade que suprimentos estão chegando à faixa de Gaza, talvez até mais do que em semanas anteriores, mas ao mesmo tempo há lacunas críticas”.
Esgoto a céu aberto
A organização não-governamental (ONG) de ajuda humanitária Oxfam, que tem um programa em Gaza, alertou que a situação “está ficando pior a cada dia”, com poucos suprimentos de água, comida e combustível.
De acordo com a Oxfam, os hospitais estão superlotados. Em algumas áreas, segundo a agência, há esgotos a céu aberto. Israel aumentou o controle sobre o que entra e sai da faixa de Gaza depois que o grupo palestino Hamas assumiu o controle o território, ao derrotar a facção rival Fatah, em 2007.
Segundo a ONU, desde então houve uma significativa deterioração na infraestrutura e nos serviços básicos na faixa de Gaza e 80% dos 1,4 milhão de habitantes do território não conseguem se manter sem ajuda.
Ataques
Os últimos ataques israelenses contra a faixa de Gaza mataram cinco palestinos, entre eles três crianças. Desde o início da ação militar, as forças israelenses já atacaram mais de 500 alvos do Hamas em Gaza.
Nas últimas 24 horas, foram atingidas 20 casas de líderes do Hamas, segundo a ONU.
Os militantes palestinos também continuam a lançar foguetes contra o território israelense. Em 24 horas foram lançados mais de 60 foguetes, que deixaram quatro pessoas feridas na cidade de Ashkelon, no sul de Israel.
Até agora, quatro israelenses morreram em decorrência dos ataques com foguetes palestinos. Israel afirma que a ação militar na faixa de Gaza tem o objetivo de interromper esses ataques.
Nesta sexta-feira, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, pediu um cessar-fogo “durável e sustentável”. Segundo a correspondente da BBC em Washington, Kim Ghattas, não está claro o que Rice quis dizer por cessar-fogo “sustentável” ou como um acordo poderia ser alcançado.
No entanto, segundo Ghattas, a posição americana pode ser interpretada como um apoio tácito para que Israel continue sua operação militar e tente enfraquecer o Hamas o máximo possível.
Protestos
Nesta sexta-feira, manifestantes realizaram protestos em diversos países contra a ação israelense.
Na Cisjordânia, milhares de palestinos realizaram manifestações depois que o Hamas convocou a realização de um “dia de ódio” contra os ataques. Segundo correspondentes, os protestos foram dirigidos não apenas a Israel, mas também aos governos árabes por não conseguirem interromper a violência.
Em Jerusalém Oriental, jovens jogaram pedras contra forças de segurança israelenses, que responderam com gás lacrimogêneo.
Protestos também foram realizados em diversos países árabes e asiáticos, na Austrália e no Quênia. Na Jordânia e no Egito houve confrontos entre manifestantes e a polícia.
Também nesta sexta-feira, Israel permitiu que cerca de 100 estrangeiros – a maioria mulheres casadas com palestinos e crianças – deixassem a faixa de Gaza.
Segundo correspondentes, a medida pode ser uma última ação de Israel antes de invadir o território com tanques. De acordo com o editor de Oriente Médio da BBC, Jeremy Bowen, uma semana de bombardeios aéreos não foi suficiente para interromper o lançamento de foguetes contra Israel, e o governo israelense terá agora de decidir se leva adiante uma operação terrestre.
Israel mantém a proibição da entrada de jornalistas estrangeiros na faixa de Gaza, apesar de uma decisão da Suprema Corte que permitia a entrada de um número limitado de repórteres no território palestino.