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Gatunos Emergentes em Nome da Fé

Se fizermos uma avaliação entre o bem e o mal das religiões, para que lado pende a balança?

Nas últimas quatro ou cinco décadas, o Brasil, entre outros países, vem sofrendo um surto epidêmico de igrejas evangélicas. Evangelizar, segundo sua definição, é pregar o evangelho, a mensagem de Cristo. Essas igrejas, com inúmeras denominações, quase sempre pomposas para atrair as inocentes vítimas, são quase todas armadilhas a céu aberto para extorquir seus incautos seguidores. Seus fundadores, astutos e velhacos, materialistas vazios de espiritualidade, souberam perceber a matéria-prima, o diamante bruto da ignorância e partem para explorá-lo, não para lapidá-lo, como era de esperar, mas para tirar proveito e enriquecer. E fazem isso tão aberta e desavergonhadamente que somente o seu rebanho, embriagado pela fé, não consegue enxergar. 

Não consigo me convencer, mesmo assistindo ao vivo cenas de tamanha ingenuidade, como a manada humana, dispondo de uma cabeça que não pensa, deixa-se explorar pela esperteza de predadores inescrupulosos que se servindo da via mercantil, vendem uma duvidosa e ilusória salvação de acesso à graça celestial.

Há poucos dias atrás, 15/09/2011, no Jornal da Band, diante de uma enorme platéia, um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, na verdade do reino do dinheiro, entrevistava uma criança de aproximadamente seis anos. O vivaldino, desalmado, queria saber o que ela iria fazer de seus brinquedos. Com voz tímida, respondeu-lhe que iria vendê-los. E o que iria fazer do dinheiro? Depositar no cofre. Vejam que beleza de criança! Houve, certamente, muitos aplausos. O Pastor, diante de cena tão comovente e edificante, deve ter concluído que seria mais fácil convencer o rebanho a ser mais generoso. Se possível, vender tudo que tiver, pois, quanto mais desprendimento, mais garantido o lugarzinho no céu. Afinal de contas, daqui nada se leva e não há necessidade de dinheiro no paraíso. 

Que se engane um adulto, passa, mas não podemos conceber que um marginal que se faz de pregador de uma igreja, procure tirar vantagem da inocência de uma criança, para mais facilmente depenar seus fiéis. Não existe, para uma criança, nada mais importante do que brincar e seus brinquedos são os instrumentos da sua diversão. Nem Deus permitiria o sacrifício de uma criança para desfazer-se de seus brinquedos. O referido Pastor, um batedor de carteira, pecou contra Deus e contra a inocência de uma criança. 

O fundador da Igreja Universal, o ateu Edir Macedo, não apenas teve a inspiração para descobrir como ficar milionário sem fazer força. Como conseqüência, achou um meio de troçar e se divertir gostosamente da ingenuidade de seus fiéis. Diante de um imenso público, verdadeiro laboratório do comportamento humano, deve ser-lhe curioso e divertido, pelo convencimento teatral da oratória, fazê-la dócil aos seus interesses. Não existe na Igreja Universal maior preocupação do que aumentar a arrecadação. O próprio Macedo ensina a seus pastores como arrancar dinheiro dos fiéis. Com essa característica ímpar, diríamos que essa igreja, prevalecendo-se da liberdade religiosa e formalmente constituída, não passa de uma casa de exploração abusiva da ignorância do povão. 

Existem lugares no mundo onde não há mais espaço vazio para a exploração da agricultura. As jazidas e os recursos naturais não renováveis um dia se esgotarão. Existe e sempre existirá, no entanto, o mais rentável dos recursos, com a vantagem de não estar sujeito a pragas ou a sofrer a inclemência dos elementos da natureza: a ignorância do populacho. É, assim como a beleza inspira os poetas, a ingênua ignorância estimula o apetite dos abutres e aves de rapina. O povo tem horror ao racional. É tamanha essa aversão que se fosse possível dar ao ignorante a opção de sofrer rigorosas lambadas nas costas e o esforço mental para ganhar o céu, seguramente preferirá as vergastadas no lombo. Eis a explicação do irracional de tantas crenças populares. É a realidade nua e crua de um fenômeno abrangente, em toda parte do mundo. 

Apesar disso, não podemos concordar com a desfaçatez de uma igreja que é um acinte à seriedade religiosa, pondo no mesmo saco o Divino e a ganância pelo dinheiro. A Universal Sociedade Anônima não merece nenhum respeito pelo seu escrachado mercantilismo, fazendo de suas práticas religiosas apenas um meio para angariar fundos necessários à sua incontida expansão. Hipócritas por excelência, seus pastores, com provável exceção, Bíblia Sagrada em punho, fazendo o teatro do conhecimento, pregam o bem e às escondidas, praticar o mal. Sem o bom exemplo, a mais inútil das pregações. Esse paradoxo, faz com que de um lado fiquem os fiéis que, flutuando no mundo etéreo da ilusão, estão sedentos e desesperados pelo perdão Divino e, no outro, pisando em terra firme, os lobos travestidos de pastores que espertamente buscam usufruir os prazeres materiais, patrocinados bovinamente pelos que aspiram a graça de um céu hipotético.