Presidente da FCP, Erivaldo Oliveira
O Ministério da Cultura (MinC), por meio da Fundação Cultural Palmares (FCP), apresentou na tarde desta sexta-feira (26), na Casa Brasil, no Rio de Janeiro, a campanha Filhos do Brasil, de combate à violência e à intolerância religiosa. O cantor e compositor de samba Arlindo Cruz é o embaixador da ação.
O presidente da FCP, Erivaldo Oliveira, destaca que o Brasil é um país culturalmente diverso e que o Estado precisa estar presente para garantir o respeito a essa diversidade, sobretudo, no que tange religiões de matriz africana. “A nossa Constituição prevê o respeito às diversidades, somos um país plural, com muitas demandas. Nesse contexto, é fundamental o respeito às religiosidades, aos cultos de matrizes africanas que têm um histórico de muita perseguição. Precisamos trazer a tolerância para dentro da sociedade e permitir que cada um tenha sua fé. O respeito é como a liberdade, temos que professar essa fé”, afirmou.
Oliveira anunciou durante o evento a intenção de a Fundação Palmares lançar cursos de capacitação voltados para a juventude negra. “Queremos promover cursos de fotografia, designer e outros que realmente empoderem o negro, especialmente, o jovem das regiões periféricas. Vamos inserir esses cursos também nas comunidades quilombolas. Nesses centros, as pessoas serão ensinadas a não terem medo de dizer que são do Candomblé ou da Umbanda, por exemplo”, destacou.
Nos últimos anos, os casos de violência contra praticantes de religiões afro-brasileiras têm se tornado cada vez mais frequentes. Além de ataques pessoais, atentados a terreiros e destruição do patrimônio dos seguidores de religiões de matriz africana como candomblé e umbanda, marcaram o ano de 2015.
“Queremos fazer parcerias com as mais diversas secretarias de Estado e de municípios para tirar do papel a Lei 10.639, que prevê a inclusão, no currículo oficial da Rede de Ensino, a temática História e Cultura Afro-Brasileira. Não acredito em combate ao racismo sem estarmos dentro das escolas, sem ensinarmos o jovem essa tolerância. As pessoas não nascem preconceituosas, é algo aprendido”, enfatizou.
O evento contou com a participação de representantes de religiões como o Islamismo, Judaísmo e de entidades de preservação da cultura africana. Presente no debate, o rabino Dario Bialer, representante da Associação Israelita do Rio de Janeiro, ponderou sobre a importância de não apenas tolerar as diferenças, mas celebrá-las. “Na diversidade nós nos enriquecemos. Precisamos ver no outro não apenas o que temos em comum, mas o que temos de diferente. Esse é o processo que nos faz crescer, é o mistério da vida e da existência”, disse.
União religiosa
Embaixador da campanha, Arlindo Cruz, defendeu a união de povos e crenças durante sua participação na apresentação da campanha. “Aprendi dentro da minha religião e na música a respeitar toda manifestação religiosa, especialmente, as de origem negra, que são sempre muito discriminadas no país. Queremos unir todas as religiões, todas as crenças. O Bem é a maior religião, é rezar junto por um ideal, seja você budista, católico, protestante, umbandista, judeu ou do candomblé”, declarou.
Para a ialorixá, professora e antropóloga Rosiane Rodrigues, a expectativa em relação a essa campanha é de que o Estado perceba a existência do problema em sua plenitude e trate a intolerância religiosa como crime de segurança nacional.
Diácono metodista, também professor e antropólogo Rolf Malungo comenta que o que mais presencia é o desrespeito à diversidade religiosa e que a campanha é um passo importante. “Li no jornal que um patrono de escola de samba proibiu temas ligados ao espiritismo, candomblé. A campanha é interessante, mas é preciso fazer mais para frear essas demonstrações de intolerância”, concluiu.
