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Cultura

Fotos: Duas parelhas, vaqueiro e cavalo, uma pista de 90 metros e um objetivo

A evolução milionária da vaquejada, ?esporte? brasileiro descendente da pega de boi no mato

Você já ouviu as expressões, quando o boi sai do jequi, ou então, batedor de esteira. E valeu boi ou zero boi, separa o boi e, retorno. Essas são algumas das expressões do esporte, para os vaqueiros sim, oficialmente ainda em tramitação o reconhecimento no Congresso Nacional. A vaquejada é uma competição recreativa descendente da pega de boi no mato, ambas genuinamente nordestinas.

Com o passar dos anos, a vaquejada evoluiu, vaqueiros são disputados pelos melhores e maiores haras e parques de vaquejada do Brasil, como acontecem em outros esportes. Competições milionárias passaram a fazer parte do calendário do País. Animais que ultrapassam os R$ 200 mil. Uma estrutura de dar inveja a qualquer modalidade.

Caminhões para o transporte da comitiva que podem chegar até a meio milhão.
Um investimento altíssimo, que pode ser, ou não, rentável, para o dono do parque e o vaqueiro. Está em andamento a oitava temporada nacional da competição. Poucos são conhecedores, eu mesmo fiquei sabendo agora. O melhor vaqueiro, bastante conhecido nos parques brasileiros, é alagoano.

Jeito simples, muito humilde, pouco sorridente, mas que gosta muito de conversar. Ele é de Arapiraca e a vaquejada corre no sangue da família. Oito irmãos participam de competições, fora os sobrinhos e primos. Seu filho com 18 anos, Celso Vitório Júnior, já é considerado o 20ª melhor do Brasil. O grande campeão brasileiro, das sete competições nacionais, cinco são suas e está participando da oitava.

E o sobrenome dele, bem sugestivo, Celso ‘Vitório’, 38 anos, dos quais, 20 anos, dedicados a participar de competições. Ele diz que perdeu a conta de quantas vaquejadas ganhou. E prêmios, da mesma forma. “Não lembro de quantas competições participei e ganhei. Prêmios, vários. Mais de cem motos, uns dez carros sozinhos e uns sessenta divididos. Dinheiro em espécie, não tenho ideia”, disse Vitório.

Roberto Miranda - aquiacontece.com.brEstrutura e comitiva

O vaqueiro de Arapiraca corre representando o Parque Divina Luz, também sediado na capital do Agreste. Ele tem salário fixo de R$ 1.500 e a estrutura pertence ao seu contratante. Tudo que ganha, divide com o parque, 50% para cada um. Vitório percorre o Brasil em um caminhão que pode ultrapassar meio milhão. Sua comitiva é composta por dois vaqueiros e um cuidador, que também é o responsável pela cozinha e três cavalos, dois de puxar e um esteira.

Quanto ao caminhão, o leitor pode achar um investimento muito alto, mas, toda a comitiva precisa ter conforto, inclusive, os animais. A veículo é um Volkswagen, todo projetado, dividido em dois. Uma metade lava os três animais e os equipamentos, a segunda parte, funciona o dormitório, a cozinha e o banheiro. Um pequeno apartamento, com tv lcd de 20′, canais por assinatura e ar-condicionado. Na cozinha, refrigerador, forno de microondas e depurador de ar.

“Nós chegamos a passar até um mês fora de casa. Existem semanas que participamos de três vaquejadas. Daí a necessidade de toda uma estrutura e suporte”, justifica o campeão, acrescentado que também é o motorista do caminhão.

Mensalmente, Vitório pode ganhar até R$ 50 mil, dependendo da quantidade de competições. Sou curioso e pergunto, você se considera rico? De pronto, sem pestanejar ele responde: “Não. Mas vivo bem. Tenho uns sítios, casa própria e carro”. E emendo outra, até quando você pretende continuar correndo? “Até quando Deus permitir. Conheço vaqueiros que correm aos 70 anos. Pretendo chegar lá. Vaquejada é minha paixão. É única coisa que sei fazer e pretendo correr ainda durante anos”. Aos 38 anos, Celso Vitório não consume bebida alcoólica e não fuma. Durante o nosso bate papo, que aconteceu no intervalo de uma corrida, ele participava de um churrasco de carneiro, carne tida como saudável pela vaqueirama e bebia suco de frutas.

Roberto Miranda - aquiacontece.com.brO puxador e o esteira

O grande campeão brasileiro explica que o puxador é o vaqueiro responsável por derrubar o boi na faixa que contém 10 metros. O esteira é o que dá o ritmo ao boi. “Ambos são importantes. Sem um bom esteira, o puxador, no meu caso, não conseguiria derrubar o boi na faixa. O esteira é quem dá o ritmo ao boi até a faixa, ao se aproximar, ele passa a rabo do animal para mim. O batedor é tão importante, quanto o puxador”, garantiu.

Os animais dos vaqueiros

A raça preferida dos competidores é a Quarto de Milha, com animais que ultrapassam os R$ 200 mil. Celso Vitório correu em Penedo, na 2ª Grande Vaquejada do Parque 2k, com um pertencente ao Horas e Parque de Vaquejadas Moacir Andrade, de propriedade do agropecuarista Alcides Andrade Neto.

Roberto Miranda - aquiacontece.com.brSegundo ele, um criador de animais de região do Baixo São Francisco tentou comprar o seu animal vencedor por R$ 200 mil, valor que recusou. “Teve uma oportunidade que um criador da região me procurou para comprar Sabingo (nome do animal que possui 12 anos), na oportunidade, disse que seu valor era R$ 200 mil. Ele colocou na hora R$ 150 mil, na outra semana, o pretenso comprador veio com os R$ 200 mil nas mãos. Repensei e desisti de vender o meu campeão”, contou Alcides Neto.

Celso Vitório teve um cavalo da linhagem de Sabingo, comprou ao agropecuarista de Penedo por R$ 50 mil e em quinze dias, o vendou por R$ 70 mil. Na mesma semana, foi vendido novamente por R$ 115 mil.

“Animais campeões são caros. Uma cobertura pode ultrapassar os R$ 5 mil, tanto da maneira tradicional, ou por inseminação artificial. Desta forma que os haras ganham dinheiro. As vaquejadas são excelentes vitrines para mostrarmos os nossos animais”, frisou o agropecuarista penedense.

Roberto Miranda - aquiacontece.com.brAs regras do esporte milionário

A pista de vaquejada possui 90 metros do jequi, onde o boi sai, até a primeira faixa branca. A dupla precisa derrubar o boi dentro da área delimitada que possui 10 metros. Para o juiz gritar ‘valeu boi’, o animal tem que tocar as costas na terra. Se isso não acontecer, o juiz grita ‘zero boi’. Em média a senha para participar de vaquejadas custa de R$ 400 a R$ 5.000. Esse valor varia a depender da premiação. Existem competições que distribuem até R$ 270 mil. O puxador pode correr em uma vaquejada até duas senhas, com relação ao batedor, ele pode ser esteira de várias duplas, caso vencedor, ganha 10% da premiação.

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