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Alagoas

Fernando Collor pode ser candidato a governador do Estado

Vinte anos depois de sua eleição à Presidência da República, o senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL) prepara-se para tentar retomar o cargo de onde saiu para disputar o Palácio do Planalto: o governo de Alagoas. Aos 60 anos, voltou ao velho estilo agressivo que marcou sua ascensão na política. Controla a TV, rádio e jornal das Organizações Arnon de Mello que o projetaram no Estado, reaproximou-se de um antigo aliado, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), e explora, com eficiência, perante os alagoanos, a aura de injustiçado pelo impeachment.

Além de antigos companheiros de 1989, agregou novos aliados, muitos dos quais alvos de investigações da Polícia Federal. Entre os principais articuladores está o deputado estadual Cícero Ferro (PMN), preso durante a Operação Taturana, que apurou desvios de mais de R$ 280 milhões em recursos públicos. É ardoroso defensor da candidatura: “Collor é carismático, tem serviços prestados ao Estado e une todas as lideranças”.

O provável principal adversário de Collor, governador Teotonio Vilela, tem assumido um discurso de composição com os cotados para enfrentá-lo. Por ora, é de que tanto Collor quanto o senador Renan Calheiros são bem vindos ao seu lado em 2010. “Nas duas únicas eleições em que não concorremos eu e Renan do mesmo lado, perdemos. Em 1990 não o apoiei ao governo, e em 1992 ele não me apoiou para prefeito. Pode ser coincidência, mas é fato”, disse.

Palanque tucano em 2010, Vilela é só elogios a Lula. “O presidente tem tido uma postura mais que republicana, solidária, amiga, conosco. Nunca me pediu nada em troca”, afirmou, às vésperas da terceira visita de Serra em menos de dois anos.
Atribui seu baixo índice nas pesquisas ao fato de suas ações ainda não terem aparecido à população. “É um trabalho de reconstrução de um Estado. Melhoramos a máquina administrativa, enxugamos o Estado”. Vilela afirma que avanços sociais serão notados em 2010. Cita como feitos saltos na habitação popular, no saneamento e na redução da mortalidade infantil.

Nos primeiros dois anos da gestão fez um ajuste fiscal para que o Estado recuperasse sua capacidade de endividamento, o que ocorreu apenas este ano. Foram tomados cerca de R$ 380 milhões junto ao Banco Mundial. Como contrapartida, o governo se comprometeu em consolidar o ajuste fiscal. Ocorre que esse ajuste afetou sua popularidade. Logo que assumiu, Vilela baixou decretos cancelando aumentos do funcionalismo público, concedidos no fim da gestão de seu antecessor, Ronaldo Lessa (PDT). Além de ser o estopim para o rompimento de Lessa com o governo que ajudara a eleger, o episódio serviu também para reavivar o movimento sindical no Estado, que estava fechado com Lessa. A partir daí, as greves não cessaram.

Os críticos apontam um governo solitário, centralizado na figura do governador, do seu secretário-chefe do Gabinete Civil, Alvaro Machado, e do seu secretário de Planejamento, Sérgio Moreira, que blindam Vilela do acesso aos aliados – hoje restritos ao PSB e ao PPS. Um retrato disso é que uma antiga aliada, a ex-prefeita de Arapiraca Célia Rocha, militante histórica do PSDB alagoano, rompeu com Vilela e foi levada por Collor ao PTB. Com alta popularidade em sua cidade, a segunda maior do Estado, deve conduzir o Agreste -um terço do eleitorado de Alagoas- a uma maciça votação em Collor. “Cara-pintada só apareceu com Collor, mas corrupção houve com todos os presidentes. E ele ainda foi inocentado depois”, afirma ela, pré-candidata a deputada federal, que completa: “Collor e Renan juntos são muitos fortes”.