Tecelagem da Memória: o algodão e as vilas operárias em Alagoas é o tema do calendário 2012 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). O lançamento será na quarta-feira (26), às 19h, no auditório B, do Centro Cultural e de Exposições Ruth Cardoso, como parte da programação da V Bienal Internacional do Livro de Alagoas.
Quem comparecer ao lançamento também vai poder apreciar uma exposição em banners das capas dos oito calendários já publicados pela instituição, além de uma apresentação sobre a pesquisa que resultou na atual publicação. Em 2011, o tema ilustrado foi Presença holandesa em Alagoas.
A edição do calendário temático da Fapeal já faz parte da agenda cultural dos alagoanos. O projeto mantido pela fundação é conduzido pelo professor historiador Douglas Apratto Tenório, juntamente com a museóloga Cármen Lúcia Dantas, com participação de outros pesquisadores a cada ano. Nesta edição, o cientista social Golbery Lessa juntou-se à dupla para produzir o trabalho sobre um aspecto pouco explorado da cultura e da história alagoanas: a relação entre a cultura do algodão, o surgimento das indústrias têxteis e a existência das vilas operárias, além de trazer à luz informações sobre temas correlacionados.
“Pretende-se, portanto, dar visibilidade ao esquecido tema do mundo têxtil na história e na cultura alagoana, no contexto de uma reflexão mais contemporânea e complexa sobre nossa identidade. Analisar o progresso alcançado por diversas cidades atingidas pela irradiação algodoeira, o artesanato têxtil, a presença feminina no universo fabril, a oferta de serviços básicos para a população nas vilas operárias, o boom alcançado por esses parques, a decadência e a necessidade do resgate do valioso acervo patrimonial dessas vilas são pontos que contribuirão para um resgate de memória e preservação da História de Alagoas. O projeto propõe-se a preencher uma lacuna existente em nossa bibliografia, já que contempla também um livro sobre o tema”, explicam os autores.
Além da pesquisa minuciosa levantando fontes, documentos e depoimentos, o ponto alto do calendário é a pesquisa iconográfica. Mistura de imagens atuais produzidas pelo repórter fotográfico José Ronaldo, como as da Fábrica de Tecidos Vera Cruz, em São Miguel dos Campos e as da Fábrica Carmen, em Fernão Velho, com imagens antigas recolhidas nos arquivos das empresas retratadas – das ainda existentes – ou em acervos pessoais, que retratam não somente máquinas e homens trabalhando, mas também operários em momentos de lazer, jogando futebol ou participando de momentos de fé promovidos nos terreiros das fábricas.
Na capa e em páginas internas, aquele que, não sendo alagoano, é considerado um ícone no Estado, não somente da indústria têxtil, mas também do modo de viver próprio de sua época propiciado pela estrutura sociocultural existente no final do século XIX e início do XX. Responsável não apenas pelo surgimento de uma fábrica de tecidos que ainda existe no Sertão de Alagoas, prestes a completar cem anos, mas também por toda estrutura necessária para o desenvolvimento de um verdadeiro império, o cearense Delmiro Gouveia aparece elegantemente posado, como se para as gerações futuras. A foto, de 1916, foi tirada dois anos depois da fundação da Companhia Agro-Fabril Mercantil Fábrica de Linhas Estrela – hoje Fábrica da Pedra – e um ano antes do “Rei dos Sertões” ser assassinado em meio a uma rede de intrigas envolvendo amantes, inimigos e concorrentes industriais.
Está representado ainda, no calendário, o que restou da fábrica de tecidos de Piaçabuçu, da Cia de Fiação e Tecidos Norte Alagoas, de Saúde, da Fábrica de Tecidos Sebastião Ferreira, de São Miguel dos Campos, a Associação Comercial de Maceió, além de livros e telas de artistas plásticos que serviram de fontes para os pesquisadores. O arremate visual é dado pelo projeto gráfico primoroso da Núcleo Zero, através da escolha criteriosa das cores de fundo e de ilustrações baseadas no trabalho dos pesquisadores. A revisão é de Inove dos Santos.
A versão do Calendário Cultural a ser lançada nesta quarta é a de parede. Os visitantes da V Bienal que colecionam a publicação também poderão adquirir edições anteriores no estande da Fapeal, como também outros trabalhos da instituição. Mas o calendário só será distribuído na cerimônia de lançamento. A distribuição, tanto do calendário, quanto do material no estande, é gratuita.