Estimativa da Codefasf é que sejam movimentados R$ 320 mil
Não vai faltar pescado nesta Semana Santa no Baixo São Francisco. Do início do ano até o momento, já foram despescados cerca de 34 toneladas de peixes nos lotes de piscicultores familiares dos perímetros irrigados do Boacica, em Igreja Nova, e do Itiúba, em Porto Real do Colégio, mantidos pela Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) em Alagoas. Os peixes são vendidos diretamente a compradores da região que vendem o pescado nas feiras livres de municípios do Baixo São Francisco. A estimativa da Codevasf é que, em 2013, as atividades piscícolas movimentem aproximadamente R$ 320 mil nos dois perímetros irrigados.
A piscicultura familiar é desenvolvida de forma semi-extensiva no sistema de rotação de cultura, na qual durante uma parte do ano, os lotes produzem arroz e em outra se pratica a piscicultura com o policultivo das espécies tambaqui, tilápia, piau e curimatã, mais conhecida no Baixo São Francisco como xira. Dos 766 lotes do Perímetro Irrigado do Boacica, 35 desenvolvem o cultivo de peixes, ocupando uma área de 52 hectares. Já no Perímetro Irrigado do Itiúba, 41 dos 227 lotes fazem o cultivo de peixes. Atualmente, a produtividade média em Boacica está em 1,5 toneladas por hectare por ciclo e no Perímetro Irrigado do Itiúba está em 0,8 toneladas por hectare por ciclo.
Alberto dos Santos, 31 anos, é um dos piscicultores familiares do Perímetro Irrigado do Boacica. Desde criança, acompanhava o pai, João Evangelista dos Santos, também piscicultor familiar, na atividade no lote da família no perímetro. Já adulto e após formar família, ele decidiu seguir o mesmo caminho do pai e hoje cultiva tambaqui e xira em um lote próprio. Com a Semana Santa, ele já enxerga um aumento do movimento e do faturamento com a despesca dos peixes cultivados há 8 meses. “Hoje tiramos 160 kg de tambaqui e 100 kg de xira. Vendo o quilo de xira por 10 reais e o de tambaqui por 6 reais. Sempre vendemos bem durante todo o ano. Na Semana Santa, vemos um aumento na procura, o que é muito bom para nós”, afirmou.
A despesca no lote de Alberto dos Santos começa sempre às 4 horas da manhã. O técnico agropecuário Zacarias Duarte, que integra a equipe da empresa Plena Consultoria e Projetos contratada pela Codevasf para prestar assistência técnica e extensão rural nos perímetros irrigados da companhia em Alagoas, explica que esse horário é ideal para prevenir o estresse dos animais, além de liberar mais cedo as pessoas da vizinhança que auxiliam na despesca dos lotes. “O horário mais cedo também permite que o pescado chegue fresquinho às feiras livres e à mesa do consumidor”, completou. Ele também adiantou que, durante a Semana Santa, as despescas nos perímetros irrigados devem se estender até a quinta-feira, 28 de março.
O técnico agropecuário ainda explicou porque a escolha das espécies, em especial da xira e do tambaqui. “O cultivo dessas duas espécies no sistema de policultivo é muito mais fácil para esses produtores. Os custos ficam mais baixos, pois essas espécies consomem subprodutos do arroz, como a palha, os grãos que sobrem da colheita e o pó do arroz resultado do beneficiamento. A xira e o tambaqui também têm um comércio certo. A tilápia e o piau são cultivados em menor escala, pois o comércio desses peixes tem um consumo mais baixo” afirmou Zacarias Duarte. Ele também destacou que o sucesso de piscicultores familiares como Alberto dos Santos e João Evangelista dos Santos tem chamado a atenção de outros agricultores, que também desejam entrar na atividade.
O fato é confirmado pelo presidente da Associação dos Piscicultores do Perímetro Irrigado do Boacica (Aspib), Manuel Lino Filho. “Tem muitos agricultores aqui do Boacica querendo entrar no ramo de piscicultura. Eles vêm aqui e perguntam se dá renda e quanto é o custo para desenvolver essa atividade. Um desses é meu filho, que já começou a fazer seu tanque de criação de peixe. Todos os meus filhos já trabalharam no lote. Esse negócio está contaminando toda minha família. Nós que somos da agricultura temos que mexer um pouquinho aqui e acolá para honrar nossos compromissos”, declarou.
O piscicultor familiar e presidente da associação também cultiva peixes em 12 viveiros escavados desde 2005. “No momento, tenho um tanque para despesca que esperou a Semana Santa. A procura é grande, ainda mais com a xira, que é muito apreciada na região. De novembro, até agora já tirei 3 toneladas de peixe. O povo está procurando e eu tenho que ter o produto”, falou. Ele acrescentou que o principal produto do seu lote é o arroz, cultura tradicional do Baixo São Francisco, e que a piscicultura é a segunda atividade, seguida pela produção de coco.
No Perímetro Irrigado do Itiúba, mantido pela Codevasf em Porto Real do Colégio (AL), a piscicultura também está ganhando cada vez mais espaço. “Muitos agricultores estão nos procurando para saber como funciona essa atividade. Eles querem ter mais uma fonte de renda, pois sua atividade principal é o arroz”, afirmou o presidente da Associação dos Piscicultores do Perímetro Irrigado do Itiúba (Appi), João Roque dos Santos. Segundo ele, o movimento de despesca aumentou na Semana Santa. “Os produtores fazem a despesca até quinta (28). Esse ano, o preço do pescado teve uma melhora aqui em Porto Real do Colégio. Vendemos nossa produção para compradores da região e também para a prefeitura” explicou. Ele ainda fez questão de destacar o apoio dado pela Codevasf à produção dos piscicultores familiares do Itiúba com a doação de alevinos do Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba.
Para o chefe da Unidade de Apoio à Produção da Codevasf em Alagoas, engenheiro de pesca Paulo Pantoja, a companhia pretende agora estimular os agricultores irrigantes do Perímetro Irrigado do Marituba, em Penedo, o mais novo perímetro irrigado da empresa no estado, a desenvolverem atividades aquícolas, em especial a piscicultura, como fomento a novas alternativas produtivas para essas famílias. “Em parceria com o Centro Integrado de Recursos Pesqueiros e Aquicultura de Itiúba da Codevasf, estamos fomentando a piscicultura em nossos perímetros irrigados em Alagoas. Essa atividade proporciona ao produtor familiar uma grande rentabilidade.
Desde os anos de 1980, a partir de estudos da Codevasf e da FAO, organização das Nações Unidas (ONU) para agricultura e alimentação, o Governo Federal já havia definido que os perímetros irrigados implantados pela companhia no Baixo São Francisco também atuariam como polo de desenvolvimento da aquicultura, com destaque para a piscicultura, existindo em conjunto com a rizicultura, atividade tradicional na região. As condições de topografia de solo, clima e a tradição da atividade de pesca na região são fatores que fortalecem essa estratégia”, definiu. Ele ainda adiantou que a Codevasf está estudando estimular a carcinicultura, criação de camarão, nos perímetros irrigados como outra alternativa produtiva.
De acordo com o superintendente regional da Codevasf em Alagoas, Luiz Alberto Moreira, a Codevasf enxerga nas atividades aquícolas, em especial na piscicultura, uma estratégia de fomento ao desenvolvimento econômico da região do Baixo São Francisco devido as suas características naturais. “As atividades aquícolas, com destaque para a piscicultura em tanques-rede e em viveiros escavados, têm se mostrado como alternativa viável de fortalecimento da renda dos agricultores irrigantes dos perímetros públicos mantidos pela Codevasf em Alagoas.
O sucesso de pequenos empreendimentos familiares que cultivam arroz e peixes nos mostra que estamos no caminho certo. Para isso, a Codevasf mantém a infraestrutura de irrigação e drenagem desses perímetros, oferta a assistência técnica e extensão rural e faz a doação de alevinos para esses pequenos produtores, pois acreditamos na força da produção familiar para o desenvolvimento regional do Baixo São Francisco”, declarou.
