Na noite dessa sexta-feira, o delegado da FIA, Charlie Whiting, recebeu fogo cruzado da imprensa internacional, em Valência. Jornalistas dos mais diversos países lhe questionaram a razão de a entidade decidir, após a realização de oito corridas, mudar o regulamento, o que, em princípio, objetiva a afetar diretamente a Red Bull, team do líder da competição, Sebastian Vettel. “Sei que há pessoas que acreditam em motivo político. Mas afirmo ser técnico. E me sinto bastante confortável para dizer isso.”
A partir de hoje, na classificação do GP da Europa, em Valência, oitavo do calendário, as equipes terão de adotar o mesmo ajuste eletrônico do motor de amanhã, na corrida. E a partir da etapa seguinte do campeonato, em Silverstone, Inglaterra, dia 10, o chamado escapamento aerodinâmico vai ser proibido. “Nós não mudamos as regras. Apenas estamos impedindo que pessoas as burlem”, disse o inglês. “E também não proibimos o escapamentos como são usados hoje, apenas o limitamos a fim de evitar seu uso com propósito aerodinâmico.”
Se a prova de ontem fosse de retórica, Whiting teria sido aprovado. Suas explicações são convincentes. Existe, mesmo, um bom motivo técnico para rever a aplicação da regra. Mas, ao mesmo tempo, quem conhece a história da Fórmula sabe que os interesses políticos costumam ser tão superiores que sua associação com a medida adotada agora pela FIA é inevitável. E, com elevada probabilidade, procedente.
Os times descobriram que poderiam usar os gases do escapamento para gerar maior pressão aerodinâmica. A Red Bull é quem melhor desenvolveu o sistema e explica, em parte, sua hegemonia. Nessa projeção, Vettel poderia definir a conquista do título bem antes do fim do campeonato, o que é ruim para os interesses da F-1.
O que ninguém entende, a não ser os rivais da Red Bull, é por qual motivo a FIA esperou a temporada caminhar para uma definição para então agir. “Não houve uma reclamação formal de ninguém. Apenas uma escuderia nos solicitou para ver o que poderia ser feito”, contou Whiting, sem citar o nome. Hispania, Marussia Virgin e Williams correm com motor Cosworth, que não têm recursos financeiros para desenvolver um sistema eletrônico que permita o uso do escapamento aerodinâmico como os demais times. Sabe-se que foi uma das três.
O tema é polêmico, falou o inglês, o que dava às equipes a oportunidade de defender sua legalidade. “Mas antes de Barcelona (em 22 de maio), as avisamos que não poderiam seguir adiante com suas ideias”, disse o delegado. “Isso em razão de vermos a escalada no uso do sistema. Foi assim com o amortecedor de massa da Renault, em 2006.” Naquela ocasião, Alonso ainda foi campeão no GP do Brasil, último do calendário. Nos treinos livres de ontem, Alonso confirmou a boa adaptação da Ferrari ao circuito de Valência e fez o melhor tempo do dia.