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Negócios/Economia

Estudantes alagoanos são atração em mostra internacional de tecnologia

Estudantes participam de mostra internacional em Hamburgo

Nos anos 80, o compositor Renato Russo bradava ao mundo que odiava Química. A canção do grupo de rock Legião Urbana se tornou um hino da rebeldia adolescente e expunha a aversão que muitos jovens têm pela disciplina. Em 2011, estudantes de três escolas do Agreste alagoano rompem com este estigma e mostram que Química é diversão. Com projetos inovadores desenvolvidos em suas escolas, eles representarão o Estado na Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia (Mostratec), que começa nessa segunda-feira, 24, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.

Entre as escolas que participam do evento, estão as unidades Professora Izaura Antônia de Lisboa, de Arapiraca – com os projetos sobre a análise da ação larvicida do extrato de taioba e obtenção de corantes naturais amarelo e azul a partir do jenipapo; Nossa Senhora da Conceição, em Lagoa da Canoa, com projetos sobre o corante alimentício extraído da flor hibiscus e o uso do óleo de coco na medicina caseira; e a Graciliano Ramos, em Palmeira dos Índios, que aborda a saga do sertanejo diante da seca.

Aluno do 2º ano do Ensino Médio da Escola Izaura Antônia de Lisboa, Afonso Pereira, de 15 anos, diz que sua opinião sobre a disciplina mudou após adesão à pesquisa. “Antes, Química era apenas uma matéria que eu tinha que estudar; mas hoje, vejo que ela faz parte do nosso dia a dia”, resume.

Estudante da Escola Estadual Nossa Senhora da Conceição, Johnny Gomes, de 16 anos, entrou no grupo por influência de colegas que já haviam participado das atividades. Para ele, a experiência será decisiva na escolha de seu futuro profissional. “Decidi participar destes experimentos porque sabia que enriqueceriam meus conhecimentos e me ajudariam a decidir o que quero cursar na universidade”, explica.

Aos 16 anos, Delamar Cirilo é a veterana da turma. Cursando o 3º ano do Ensino Médio, a jovem já integrou outros grupos de pesquisa, expondo seu trabalho na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SPBC), Feira Brasileira de Ciência e Engenharia da Universidade de São Paulo (Febrace/USP) e a Mostratec 2010.

A jovem, que sonha em ser médica ou bióloga, fala da incumbência de representar Alagoas em eventos científicos de grande porte. “A responsabilidade é grande, mas também é gratificante, pois mostra o potencial existente nos alunos da rede pública”, salienta.

Os estudantes de Arapiraca e de Lagoa da Canoa têm em comum a inspiração de uma educadora: a professora de Química Nadja Alves de Souza, que coordena as quatro pesquisas das escolas Izaura Antônia de Lisboa e Nossa Senhora do Bom Conselho, que serão expostas na Mostratec.
Em suas aulas, Nadja rompe o estigma de que Química é uma disciplina difícil e tediosa. Para motivar os jovens e melhorar a aprendizagem, ela promove atividades constantes em laboratório, envolvendo os alunos em experimentos que refletem sua realidade.

“Em Lagoa da Canoa, onde temos muitos estudantes vivendo na zona rural, desenvolvemos, por sugestão dos garotos, projeto sobre as propriedades medicinais do óleo de coco, que pode ser usado para emagrecer e como cosmético. Inclusive, nossos alunos estão confecionando sabão e sabonetes no laboratório da escola para apresentar na Mostratec”, relata.

Experimentos usam matéria-prima da região

Em seus experimentos, a professora Nadja Alves faz questão de utilizar matéria-prima típica da região Agreste. A iniciativa, além de atrair a atenção dos alunos, traz um olhar científico para práticas já estabelecidas pelo conhecimento popular.

Dentre os projetos alagoanos que serão expostos na Mostratec, chama atenção a pesquisa desenvolvida pelos alunos da Escola Izaura Antonia de Lisboa sobre a ação larvicida da folha da taioba, planta abundante na região de Arapiraca.

Nadja explica que o repelente natural é produzido a partir do aquecimento da folha, cujo vapor afasta o inseto. Os estudantes puderam ver resultados práticos deste experimento quando produziram extratos da planta e os testaram em larvas do mosquito Aedes aegypti cedidas pelo Centro de Zoonoses de Arapiraca.

“Eles desenvolveram três extratos diferentes e todos apresentaram resultado positivo, afastando e matando o mosquito. Depois testaram este material na própria escola e a ação também repeliu o agente transmissor”, lembra.

Os estudantes ainda desenvolveram um método prático e de baixo custo para a produção de incenso caseiro contra os insetos. “Basta deixar a folha da taioba ao sol e esperar que ela desidradate e depois é só triturá-la e usar o pó como incenso. Este método é muito eficiente para afastar os pernilongos e é fácil de fazer”, ensina Afonso Pereira, um dos orientandos de Nadja no projeto.

Outro projeto que aproveitou um produto típico da região e resgatou uma prática comum entre os mais velhos é o estudo do uso do óleo de coco na medicina caseira. Rico em ácidos graxos, o fruto possui propriedades cicratizantes e digestivas (combate o mau colesterol e ajuda a emagrecer), além de ser usado como produto de beleza, fortalecendo os cabelos e hidratando a pele.

“O coco é um dos frutos mais completos e nutritivos que existe, e o seu óleo é o equivalente ao leite materno do mundo vegetal. Por isso, nesta pesquisa, buscamos desenvolver um método mais limpo e com melhor rendimento para a extração do líquido”, relata Rafael Lima, co-orientador do estudo em Lagoa da Canoa.