O rio São Francisco está sendo invadido por espécies de peixes que não são nativos do Velho Chico. Isto está sendo constatado principalmente no baixo curso do rio. Segundo o professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e coordenador da Expedição Científica do Baixo São Francisco, Emerson Soares, os tucunarés, apaiaris e tilápias, que são ciclídeos, se adaptaram muito bem à região. “Além de serem prolíficos, com grande voracidade, e predadores, tem a questão do aumento da salinidade, devido a retenção de água para geração de energia elétrica e irrigação. Também há as espécies costeiras que adentram nas águas interiores que competem com os organismos nativos de água doce por alimento. Estas são desfavorecidas pela mudança de qualidade de água. Dentre as espécies de peixes costeiras que adentram no continente, citamos camurupim, robalos, tainhas, baiacus e xaréus, por exemplo”, explicou.
Soares acrescentou que o novo perigo são espécies exóticas oriundas da Ásia, trazidas por aquicultores para cultivos intensivos na região e, que por algum problema como enchentes ou rompimento de tanques escavados com fuga de espaços confinados, acabam indo parar no rio, tais como o panga ou o camarão da Malásia.
Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Maciel Oliveira, o Comitê vê estes estudos com grande preocupação. “Essas espécies invasoras trazem enormes prejuízos, a exemplo do tucunaré, que é da região Norte do país, e que aqui já se encontra há muito tempo. Existem outras espécies que também estão sendo citadas, como o panga. Entretanto, a nossa maior preocupação é com relação ao mexilhão dourado que pode trazer enormes prejuízos econômicos, socioambientais e para a população ribeirinha. Iremos cobrar das autoridades competentes um plano de ação e monitoramento que seja efetivo para o combate ao mexilhão dourado aqui na região do Baixo São Francisco e em toda a extensão da bacia”.
O pesquisador da UFAL complementa que as espécies invasoras podem causar desequilíbrio ecológico, com o aumento da predação de espécies nativas, bem como vão competir por alimento e por espaço com organismos locais, e que podem transmitir parasitoses e enfermidades à população. “O mexilhão dourado é outra espécie perigosa, que se alastra e ocupa o ambiente rapidamente e traz problemas para bombas e estações de abastecimento dos municípios, o que acarreta em um aumento dos custos de tratamento da água”, pontuou Emerson Soares.
É importante ressaltar que medidas importantes precisam ser tomadas para minimizar o dano ao rio São Francisco, e o professor da UFAL citou que o aumento da fiscalização, uma legislação mais rígida contra espécies exóticas, ordenamento da atividade aquícola (medidas de controle e de prevenção de fugas de peixes de piscicultura), a promoção de ações para captura e retirada destas espécies da região, como pesca e extração das espécies exóticas do ambiente, promoção de políticas de incentivo ao uso destas espécies na cadeia produtiva, tais como produção de farinha de peixe, uso de casca do mexilhão para fabricar tijolos e cobogós na construção civil, uso destes organismos como biofertilizantes, produção de adubos, a produção de silagem, a promoção de torneios de pesca controlada e esportiva com vistas a soltar as espécies nativas e capturar peixes exóticos, são bons exemplos para a busca da diminuição das espécies invasoras na região do Baixo São Francisco.
A Expedição Científica, por exemplo, tem trazido muitas informações sobre estas espécies, já que tem monitorado o aparecimento delas e correlacionou com as mudanças da qualidade de água e no ambiente. Também tem estudado de que forma esses organismos vêm aparecendo na região e como têm se proliferado.
Pescador há mais de 30 anos, Rodrigo Vieira, de Neópolis (SE), relatou que algumas espécies invasoras estão prejudicando bastante o trabalho dos ribeirinhos, pescadores e outros moradores da região do Baixo São Francisco que indiretamente sobrevivem do que ele oferece. “Quando entramos no rio para pescar temos grandes prejuízos porque, inclusive, aparecem siris que danificam as redes, mexilhões que acabam atrapalhando o trabalho de todos os profissionais. Porém, o tucunaré que é considerado uma espécie invasora pelos cientistas e demais pesquisadores acabou trazendo benefícios para nós, pois é fácil de pescar, bem como é vendável, circula bem economicamente”, finalizou.