Com a transformação digital e o surgimento de inovações no mundo online, as operadoras de telecomunicações entraram em uma “crise de identidade” e precisam se reinventar.
A análise foi a principal conclusão de seminário realizado hoje (3) pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre o novo ecossistema digital e a sustentabilidade dos modelos de negócio de companhias do setor.
O evento buscou discutir os desafios desses mercados em um momento de mudanças econômicas e tecnológicas.
Até a virada dos anos 2000, as chamadas teles se dedicaram a prover serviços clássicos, como telefonia fixa, telefonia móvel, TV paga e, mais recentemente, acesso à internet. Contudo, diversos novas empresas passaram a prover serviços antes de responsabilidade dessas operadoras, como serviços de voz (Skype), mensagens (WhatsApp), músicas (Spotify) e vídeo (YouTube e Netflix). Esses serviços passaram a ser conhecidos como over-the-top (sobre a rede), ou OTTs, por operarem sobre a a infraestrutura que garante o acesso à web.
Em anos recentes, essa disputa de mercado vem motivando discussões intensas, seja dentro dos países ou na União Internacional de Telecomunicações. Operadoras tradicionais reclamam das receitas perdidas e da atuação de conglomerados como Facebook, Google e Microsoft sem investimento em redes. Já as gigantes da tecnologia rebatem argumentando que oferecem serviços atendendo à demanda de consumidores, aumentando as opções e gerando inovação.
O superintendente de Competição da Anatel, Abraão Balbino e Silva, apresentou dados registrando perda de lucratividade do setor entre 2010 e 2014. A receita média por usuário também caiu. A participação do segmento no bolo das indústrias de tecnologia da informação foi de 49%, em 2010, para 37%, em 2014. O preço das ações das teles e empresas de internet saiu de um patamar semelhante, em 2010, para uma queda nos primeiros e crescimento dos segundos.
Na opinião de Balbino, o setor não deveria ficar limitado a uma percepção de “concorrência desleal” por parte das empresas de internet, mas compreender que a transformação digital está gerando uma mudança radical no setor, o que gera crise de identidade nas firmas de telecomunicações.
“Estamos vivendo uma disrupção nos modelos de comunicação. E isso implica reorganização do ecossistema. O que antes era em camadas, e ela vai para uma coisa que não sabe para onde vai em termos de quem faz o quê. É preciso recompor a visão de estratégia”, afirmou.
