Depois de enfrentar uma grande luta, Gabriel e Nara participam de competição em Genebra, na Suíça
Eles são duas crianças, 08 e 14 anos. Mas, apesar da pouca idade, são campeões brasileiros e, carregam na bagagem, uma gigantesca responsabilidade. Depois de vencer mais um oponente – o dinheiro –, os penedenses Gabriel Henrique e Nara Luz, vão representar o Brasil no Campeonato Mundial de Karatê, que acontece entre os dias 21 e 28 de outubro, em Genebra, na Suíça.
Com o pódio no Campeonato Brasileiro de karatê, que ocorreu no mês de setembro, em Goiânia/GO, ambos conseguiram o índice para participar do evento mundial. Com eles, Alagoas terá três atletas participando da competição, sendo o outro campeão, a karateca Welma, que reside em Maceió.
E para chegar onde estão, pode-se afirmar que venceram um dos maiores oponentes da carreira, conseguir patrocínio, apoio, em um estado que ainda não reconhece o valor do esporte e o que ele pode proporcionar, transformar.
Apesar das mães serem, uma bancária e outra servidora pública do estado, o investimento é muito alto e o poder público não apoiou a viagem e quase que a totalidade dos recursos, vieram por doações de amigos, familiares e empresários de Penedo, e até, uma grande empresa de Arapiraca.
Nara Luz Cruz Leite, 14 anos, planejava sair do Brasil na companhia da sua mãe, Ana Lúcia, mas o que conseguiram não foi o suficiente. Para as duas, seria algo em torno de R$ 10 mil, conseguiram aproximadamente 60%.
“Tudo foi difícil. Você pedir ajuda a quem conhece não é fácil, imagina para pessoas que não conhecemos. Só decidi mesmo que ela ia participar da competição na quinta-feira (16). Pensei muito em ter que mandar ela sozinha. Mas, conhecemos as pessoas da Confederação de katarê-Do Tradicional do Brasil (CKTB), podemos confiar e confio muito na minha filha. Assinamos os documentos e Nara segue para Genebra tendo como tutor o técnico da equipe. Diante da luta, só fico triste de não conseguir ir. Queria torcer e vibrar muito por ela na competição. Agora vamos torcer pela sua vitória daqui de Penedo”, disse Ana Lúcia.
Ela e sua mãe tiveram menos de um mês para arrecadar recursos com o intuito de financiar os custos. Pediram apoio a empresários de Penedo, amigos e familiares. Também passaram ‘livro de ouro’ em repartições públicas dos governos municipal, estadual e federal. E ainda, com matérias jornalísticas sobre a filha em mãos, foi até Arapiraca, mesmo com a negativa de uma grande empresa durante contato por e-mail, com insistência bateu na porta da indústria, foi ouvida e recebeu uma doação significativa.
“Teve gente que doou R$ 2, teve ajuda com R$ 1 mil. Tudo que fiz foi pela causa, não pelo dinheiro. Queria muito que Nara representasse o Brasil. E se não tivesse conseguido, ninguém poderia dizer que não tentamos. Só queria que o poder público, as pessoas, dessem mais valor ao esporte, diante da sua importância, do poder de transformação. E quero deixar os nossos agradecimentos para todos que ajudaram nossa filha e atleta a conseguir mais essa vitória”, concluiu.
Aos 14 anos, Nara Luz não mostra nervosismo, sempre sorridente e brincalhona, a lutadora disse com convicção que vai brigar por um lugar no pódio. “Vou me esforçar bastante, mostrar que os penedenses podem. As japonesas dão medo, mas vamos enfrentá-las e trazer uma medalha [risos]“, garantiu a atleta.
Outra luta
Quem também enfrentou outra luta foi Gabriel Henrique, 08 anos e sua mãe, Fernanda Cabral. A mãe disse que jamais deixaria ele ir sozinho, e teve que pedir ajuda até a familiares que por anos, não tinha contato. E ao fim, venceu o oponente e vai para Genebra com seu filho.
“Quando meu marido chegou da competição nacional com Gabriel, ficamos na dúvida se iria ou não para o mundial. Tudo novo, muito dinheiro, um país que não conhecemos. Então, decidimos correr atrás e entramos na campanha, batendo na porta dos empresários de Penedo, também teve um sábado que ainda percorri uma parte da feira. Fui até Coruripe. Com a campanha também percebi que o esporte ainda não é valorizado”, observou Fernanda Cabral.
A mãe conta que se não conseguisse dinheiro para as duas passagens, Gabriel não iria sozinho. “Seria uma responsabilidade grande deixar ele ir com um tutor. Gabriel é muito novo. Se fosse mais velho, ainda poderia pensar”, confidenciou.
Apesar de conseguir ir para Genebra com seu filho, Fernanda embarca para a Europa bastante apreensiva. A mãe vai deixar em Penedo aos cuidados do pai, a bebê de um ano e oito meses, Ana Caroline. Eles vão torcer juntos por mais uma vitória de Gabriel.
Embarque
A atleta Nara Luz vai com sua mãe para Natal de ônibus na segunda-feira (20). Lá, se junta a delegação brasileira, onde embarca em voo com conexão por Lisboa e direto para Genebra. Gabriel Henrique e sua mãe pegam o voo em Maceió, com conexão em Recife, Lisboa e Genebra, sede do Campeonato Mundial de Karatê, que acontece entre os dias 21 e 28 de outubro.
As medalhas
Para conseguir o índice e posterior convocação, os karatecas foram vencedores da competição nacional. Nara Luz ficou em terceiro lugar na categoria kata Individual Feminino (14 e 15 anos). E em segundo lugar no Kumite Individual Feminino (14 e 15). E Gabriel Henrique, em segundo lugar no Kata Individual Masculino (08 e 09 anos). E também segundo colocado no Kumite Individual Masculino (08 e 09 anos).
Categorias
O Kata é uma luta imaginária, coreografada, um baile onde se luta como se realmente estivesse em combate. Uma luta com golpes, mas, sem oponente. E o Kumite, o confronto direto com um oponente.
O mestre
José Paulo Soares Farias reside há 23 anos em Penedo e vive do karatê. Ele é o mestre fundador da Academia Sol Nascente, localizada no bairro COHAB. Ele também foi convocado para o mundial na categoria Kata Master, após ter ficado em segundo lugar na competição nacional. Porém, nesta edição vai ficar de fora, pois já estava com uma viagem marcada para a Irlanda, país de origem materna.
Arte marcial
Karatê – mão vazia -, em japonês – é uma arte marcial de origem oriental. Tomou forma em Okinawa, no século 17. Hoje existem vários estilos. Chegou ao Brasil na primeira metade do século 20, com os imigrantes japoneses. Os primeiros instrutores conhecidos começaram a ensinar karatê nos anos 50, nos estados da Bahia e em São Paulo, onde existiam vários imigrantes de Okinawa. O primeiro torneio nacional aconteceu, em 1965, em São Paulo, e a equipe da Bahia foi a campeã.
Esporte pré-olímpico
Ainda não é um esporte olímpico, diante disso, o Governo Federal não coloca recursos para patrocinar atletas brasileiros em competições internacionais. Cada país que sedia uma Olimpíada, escolhe o esporte para tonar olímpico. Para 2016, o Brasil escolheu o Futebol de Salão. E o karatê, olímpico só em 2020, quando Tóquio será a sede.
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