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Em ritmo de festa, Parada Gay de São Paulo faz cobrança política

Os organizadores previam a participação de 3 milhões de pessoas na manifestação.

Um pouco menos colorida que nas últimas edições, a Parada do Orgulho LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) de São Paulo levou, em todos os trios elétricos que desfilaram na Avenida Paulista, uma cobrança aos candidatos nas próximas eleições. Faixas nas laterais dos caminhões pediam votos aos defensores da causa LGBT. Em ritmo eletrônico, em alguns dos carros de som, uma música repetia o lema da manifestação: “Vote Contra a Homofobia – Defenda a Cidadania”.

Os organizadores programaram uma parada mais política e menos “colorida” para 2010. A intenção foi a de chamar a atenção para a intolerância e a violência contra a comunidade LGBT. O público apoiou o lema da manifestação, mas não deixou de se divertir. Logo atrás dos carros de som, que traziam acima da boléia o tradicional arco-íris feito por balões, milhares de pessoas seguiam e dançavam, fazendo lembrar a multidão atrás dos trios elétricos de carnaval.

“Temos de pressionar os políticos por leis mais rígidas para a questão da violência contra os gays”, afirmou Patricy Guimarães. “Acho positivo a gente pedir respeito dos candidatos. Para mim, basta que eles cumpram o que está na Constituição”, disse Paulo Silveira, que acompanhou a parada na porta de um banco na Avenida Paulista.

Além da questão política, a Parada LGBT tornou-se um dos eventos turísticos mais importantes para a capital paulista. Ela passou a ser em 2010 o evento com maior número de turistas e o segundo em movimentação da economia da cidade, atrás somente da Fórmula 1. No ano passado, juntamente com as outras atrações da Gay Week, atraiu cerca de 400 mil pessoas de fora da cidade, que movimentaram aproximadamente R$ 189 milhões na economia do município. A projeção para este ano é de que o número de turistas se mantenha e a movimentação atinja R$ 196 milhões.

A artesã Daniele Belchior, que trabalha desenvolvendo produtos para o público gay, tenta pela quarta vez comercializar seu artesanato na Parada. Parte de seus produtos deste ano foi confiscada pela Guarda Municipal, mas a outra, como canecas estampadas com um arco-íris, era vendida por até R$ 5.

Por dois anos, Daniele, que diz já ter sofrido muito preconceito no Brasil por sua opção sexual, também trabalhou numa parada semelhante que é realizada na Espanha. “Acho que aqui é muito carnaval. Não tem nada político. Eles podem propor o que for, mas aqui não adianta. Em Valência (Espanha), onde eu morava, era bem mais político. Lá eles lutam por seus direitos e têm muitos mais direitos do que aqui”, afirmou.

Acompanhado pela mulher e seus dois filhos, Arnon Thalemderg, morador da capital, decidiu ir à Avenida Paulista para que as crianças pudessem “conhecer a diversidade e aprender a respeitá-la.

“Acho que [isso vem] da educação preconceituosa dos pais que não aceitam coisas diferentes do modo de vida deles. Os pais não precisam concordar com tudo o que as outras pessoas fazem, mas devem aprender a respeitar isso. E é isso que temos que passar para os nossos filhos. Eles podem ser do jeito que quiserem, mas precisam saber respeitar os diferentes”, afirmou.

Das 12h30, quando a parada começou oficialmente, até as 17h, quando os últimos carros de som desciam a Rua da Consolação, a polícia não havia registrado nenhuma ocorrência grave. Apenas pequenos furtos e problemas relacionados à bebida alcoólica em excesso. Os organizadores previam a participação de 3 milhões de pessoas na manifestação.