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Em processo de ressocialização, jovem ingressa em faculdade

A história de P. V. P. S., 18 anos, poderia ser apenas mais uma entre tantas outras trajetórias sofridas da juventude brasileira, não tivesse o gosto pela leitura acometido o jovem. “Os livros do Dan Brown são muito bons”, contou à reportagem do Portal Brasil. “O Código da Vinci, O Símbolo Perdido…”, completou, ao elencar obras do escritor norte-americano, um best-seller de todos os tempos. Da internação sob regime do Estatuto da Criança do Adolescente (ECA) à faculdade: aprovado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), P. credenciou-se a cursar engenharia civil e virou mais uma página em sua vida.

Sobre a importância dos livros na conquista de uma vaga no ensino superior e no redirecionamento das expectativas em relação ao futuro, P. é categórico. “O meu pouco passado e todo o meu futuro”, definiu. “Eu vi que ali estava a oportunidade de fazer minha mãe parar de chorar”.

Às vésperas de deixar a Unidade de Internação de Saídas Sistemáticas (UNISS), no Distrito Federal (DF), o socioeducando falou sobre a opção pela engenharia civil. “Meu pai era pedreiro. De vez em quando, ele me levava para as obras e me mostrava o engenheiro e falava que eu tinha que ser engenheiro”, explicou. “A primeira coisa que eu quero fazer é uma casa maior para minha mãe”.

Educação e profissionalização

Em entrevista exclusiva ao Portal Brasil, Cássia Fernandes, diretora da UNISS, argumentou que a redução da maioridade penal não constitui instrumento capaz de arrefecer a violência no País. De acordo com ela, a maioria dos crimes são cometidos por adultos.

“Tal medida, por si só, não vai reduzir a violência e a criminalidade”, lamentou. “As pessoas pensam que (…) vai fazer, de alguma forma, esse jovem deixar de se envolver com a violência e com a criminalidade”, acrescentou.

Cássia lembrou que a socioeducação, prevista no ECA e consagrada pela Constituição de 1988, é uma política construída levando em consideração todas as características do período da adolescência.

“O foco, eu acredito, deve ser a educação e a profissionalização. A gente, na verdade, tem que oferecer perspectivas para a nossa juventude e não condená-la à prisão (…)”, criticou. “Puni-la, de acordo com sua responsabilidade, cerceá-la a liberdade, caso for preciso, mas, acima de tudo, investir para que esse jovem (…) acredite que possa construir uma nova história e se desvincular de um meio que só lhe trouxe prejuízos”.