Três meses após abrir as portas para o atendimento aos sertanejos, o Hospital Regional Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, em Santana do Ipanema, no Sertão alagoano, atendeu 9.230 pacientes oriundos do próprio município e das outras 24 cidades que compõem a região, nos serviços de emergência, ambulatório especializado, exames de imagem, laboratoriais e internações.
Localizado em uma das regiões mais distantes da capital, a unidade, que atende os casos de média complexidade, vem contribuindo significativamente para melhorar a oferta de serviços e assistência à saúde de uma população que antes precisava se deslocar para Arapiraca, Palmeira dos Índios ou Maceió, muitas vezes perdendo a vida antes do socorro. Embora tenha sido inaugurada em 2006, a unidade nunca funcionou. Após parceria entre Governo do Estado e Prefeitura de Santana, o Clodolfo Rodrigues iniciou atendimento há 90 dias.
Para o diretor-geral do hospital, João Carlos Florentino, os números são positivos, levando em consideração que a unidade não abriu com toda sua capacidade por problemas estruturais, já que havia passado seis anos fechado. Os serviços oferecidos pelo hospital vêm seguindo um cronograma que foi pactuado com o Estado, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) e a Prefeitura de Santana do Ipanema. “Isso mostra, sem nenhuma dúvida, que o hospital está cumprindo a sua missão de prestar assistência de qualidade a todos os moradores da região”, afirma João Carlos.
Segundo o diretor, o hospital iniciou o atendimento no dia 3 de novembro do ano passado com o ambulatório de especialidades garantindo consultas de clínica médica, pediatria, obstetrícia, ginecologia, cirurgia geral, urologia e traumato-ortopedia, com hora marcada de segunda a sexta-feira, aos municípios da região. Na mesma data, também começaram a ser ofertados os exames laboratoriais. A partir de 10 de dezembro, o hospital começou a oferecer exames de imagem, como ultrassonografia, eco-dopler, eletrocardiograma, raios-X e endoscopia.
O atendimento de urgência foi implantado em 15 de dezembro, funcionando 24 horas nas especialidades de pediatria, clínica-geral, traumato-ortopedia, cirurgia geral, gineco-obstetra e anestesiologia. Já no dia 16 de dezembro, começaram a funcionar as internações clínicas de adultos e pediátricas. Em 30 de dezembro, foram inaugurados os blocos cirúrgicos para cirurgia de urgência e a maternidade.
“Com esses serviços em funcionamento, houve o fechamento do antigo hospital Arsênio Moreira”, ressaltou João Carlos, acrescentando que a próxima etapa do cronograma será a abertura da UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e UCI-Neo (Unidade de Cuidados Intermediários em Neonatologia), prevista para entrar em funcionamento ainda este mês.
Atendimento – Do total de atendimentos registrados desde a abertura do Hospital Clodolfo Rodrigues, 5.026 foram no setor de emergência, 2.694 nos ambulatórios de especialidades, 1.208 exames laboratoriais e 302 internações, totalizando 9.230 atendimentos.
De acordo com o diretor, com o perfil de unidade de média complexidade, o hospital Regional de Santana tem como principal missão estabilizar o paciente que necessita desse tipo de atendimento. “Antes de existir o hospital regional, o paciente corria risco de morte porque não ocorria a estabilização, então ele vinha a óbito antes da transferência. Nosso papel é dar suporte para estabilização até que o paciente seja transferido para outro hospital, geralmente em Arapiraca”, explicou.
Nos registros constam pacientes atendidos de Santana do Ipanema, Poço das Trincheiras, Maravilha, Olivença, Dois Riachos, Canapi, Carneiros, Ouro Branco, Senador Rui Palmeira, Olho D’Água das Flores, Piranhas, Monteirópolis, Pão de Açúcar, Inhapi, Mata Grande, Maceió, Major Isidoro, São José da Tapera, Palestina, Arapiraca, Ouro Branco, Delmiro Gouveia, Água Branca, Cacimbinhas, Batalha, Palmeira dos Índios, União dos Palmares, Estrela de Alagoas, Penedo, Boca da Mata, Jacaré dos Homens, Jaramataia, Lagoa da Canoa, Atalaia e Rio Largo.
Mas além dos pacientes oriundos de cidades alagoanas, há também pacientes de municípios de outros Estados como Carneiro (PE), Recife (PE), São Paulo (SP), Itaíba (PE), Iturama (MG), Águas Belas (PE), Curitiba (PR), Cabo (PE), Areia Branca (SE), Paulo Afonso (BA), Água Branca (PI), Arapora (MG), Olindina (BA), Camaragibe(PE), Camaçari (BA), Rio de Janeiro (RJ), Missão Velha (CE), Araçati (CE), Ribeira do Pombal (BA), Guarujá (SP), Ortolândia (SP),Viradouro (SP), Cotagem (MG), Tabira (PE), Juazeiro do Norte (CE), Poço Verde (SE), Quipapá (PE), Garanhuns (PE), Guarulhos (SP), Jaboatão dos Guararapes (PE), Iati (PE) e Itapicuru (BA).
Relatos
Para se ideia da importância do Hospital Clodolfo Rodrigues na vida dos moradores da região, basta conversar com alguns dos muitos pacientes que estão sendo atendidos na unidade. É o caso da agricultora Maria José Silva dos Santos, 26 anos, residente em Inhapi. Ela sofre de ostiomielite (infecção no osso) e está aguardando o momento de passar por uma cirurgia.
“Esse hospital é uma benção! Já andei muito em Maceió e não conseguia sequer que os médicos descobrissem o que eu tinha. Agora foi diagnosticado e vou fazer a cirurgia mais perto da minha cidade e com a garantia da continuidade do tratamento”, declarou.
No setor de obstetrícia, Marluce Neide Lima, de Santana do Ipanema, acalentava orgulhosa o filho recém-nascido em parto cesariana, Antony Marcos. Ela chegou ao hospital em situação de emergência, na quarta-feira (2). “Não posso reclamar, o atendimento foi rápido e todos muito atenciosos”, destacou.
De Poço das Trincheiras, encontramos Alécia Jesus Lima, 20 anos, fazendo uma endoscopia digestiva. Na sala de observação, relatou as dificuldades e elogiou o atendimento no hospital. “Foi a primeira vez que procurei a unidade e a marcação do exame não demorou. Se fosse para Maceió teria que sair da minha cidade às 3h da madrugada e voltar às 10h da noite. É um sacrifício muito grande para quem mora no interior”, ressaltou.
Na emergência, a preocupação maior da equipe médica era com o pequeno Éric Bruno, de um ano e sete meses, portador de cardiopatia. A criança estava sendo estabilizada para ser transferida para o Hospital do Açúcar, em Maceió, em uma ambulância especializada do Samu. Mesmo não sendo uma unidade capacitada para atender cardiopatias, o hospital garantiu a estabilização para possibilitar a transferência com segurança.
Já a dona de casa Edjane Conceição dos Santos, 25 anos, de Maravilha, chegou na quinta-feira (3) à noite ao hospital, com dores, falta de ar e o coração acelerado. “Estava muito assustada, mas hoje estou mais tranquila. Se não tivesse esse hospital teria ficado sem atendimento ou iria depender de transporte para ir até Maceió”, contou aliviada.
O atendimento de urgência no hospital de Santana do Ipanema segue as normas de Classificação de Risco de Manchester (uma prática internacional de saúde), onde a prioridade é a ordem de atendimento por gravidade e não por ordem de chegada. Segundo informou a gerente de Enfermagem, Mariana Spinelli, no momento da entrada o paciente recebe uma senha e aguarda o atendimento por um enfermeiro na sala de Classificação de Risco. De acordo com o caso, o paciente recebe uma pulseira vermelha para caso grave urgente, onde o atendimento é imediato.
A pulseira laranja é para o paciente muito urgente e a espera de atendimento é de, no máximo, 10 minutos. A pulseira amarela é para caso urgente, com espera de, no máximo, 1h. A pulseira verde indica paciente pouco urgente e o tempo de espera pode ser de até 1h20. Já a pulseira azul é caso não urgente, onde o paciente é encaminhado para atendimento ambulatorial com espera de, no máximo, 240 minutos.
Junto com a pulseira, o paciente recebe um código de barras, onde constam todas as informações pessoais e prescrições feitas pelo médico. “Isso impede que ocorra erro na administração de medicamentos e dá mais brevidade ao atendimento”, garante a gerente de Enfermagem.