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É Notícia aí no Brasil, aqui é coisa corriqueira.

A alegação acima foi emitida pelo repórter da Globo, Roberto Kovalick do programa Bom Dia Brasil, em18/08/2011, referindo-se ao achado nos escombros causados pelo tsunami, da quantia equivalente a sessenta e seis milhões de reais. Como perto de cada quantia encontravam-se documentos que identificavam seus respectivos donos, noventa e seis por cento dos mesmos já tinham recebido. Todo esse dinheiro, é bom que se ressalte,foi encontrado por muitas pessoas que em seguida, num mesmo gesto, fizeram a entrega na delegacia na mesma linha de comportamento agora no setor público, o mesmo repórter e no mesmo programa, na semana seguinte, 26/08, informava que a província de Fukushima, equivalente estado entre nós, devolveu, parece-me que à Cruz Vermelha, a importância de cento e oitenta milhões de reais. Qual o motivo? Após uma nova avaliação dos danos, percebeu-se que houve um excesso do dinheiro recebido. E logo pensei no estado de Alagoas. Precisamos adivinhar o que faria? Pediria, no mínimo, uma complementação.

Com relação ao Brasil e outros países do mesmo calibre moral, nada edificante, qual a conclusão que podemos tirar desses dois fatos? O mais curioso é que a ação do poder público nada mais é do que um reflexo do comportamento das pessoas. É que esses países não dispõem de boas e sólidas instituições. Isso não quer dizer, sem apelarmos para o extremo, se semelhante acontecimento tivesse ocorrido no Brasil, uma ou duas pessoas teriam feito o mesmo, entregando o dinheiro na delegacia, local nem sempre recomendável. A diferença é que enquanto no Japão a honestidade é quase uma unanimidade, no Brasil é um exceção em semelhante circunstância.

Por outro lado, sabemos que o Japão é um país milenar, o que não seria razão suficiente para explicar a sua grandeza de princípios, mas que sempre soube cultuar os padrões de comportamento moral, o respeito à ordem, o gosto pelo trabalho, o patriotismo e o sentimento de honra capaz de levar ao extremo do suicídio como a prática do haraquiri, abrir a barriga com a própria espada. Notabilizaram-se também o heroísmo dos Kamikasis que na segunda guerra mundial jogavam seus aviões contra os navios americanos. Aos valores antigos, foi influenciado pelas idéias ocidentais no setor produtivo, como livre comércio e o estímulo à livre iniciativa, fatores que o colocam como a segunda potência econômica, recentemente ultrapassada pela china.

E quanto a nós, onde estão as boas e intrínsecas instituições que fazem parte do comportamento espontâneo e natural da formação do brasileiro? As virtudes coercitivas são frágeis porque não têm base de apoio nas convicções íntimas da sua prática, herdadas através das gerações. Muitos pais, especialmente nos dias de hoje, descuidam-se da formação moral dos filhos, razão porque continuaremos a escorregar nos vícios da improbidade. Afinal de contas, de quem herdamos as nossas instituições? Do velho Portugal, fortemente influenciado pela igreja católica medieval, período das trevas quando, por um lado, a igreja preocupava-se com a conversão dos índios, pelo outro os colonos tinham como único objetivo saquear as riquezas do Brasil e levá-las para Portugal. Não tinham o ideal de aqui formar sua nova nacionalidade. Nascemos, assim, órfãos e despidos de instituições.

Vejamos com base no que acima dissemos sobre o valor primordial das instituições como alavanca do desenvolvimento de um país, um paralelo entre as colonizações portuguesa e espanhola de um lado, e a inglesa do outro. Qual foi a mais bem sucedida? A inglesa, porque levou para seus novos territórios a sua filosofia de vida como a liberdade, democracia, livre empreendimento, trabalho, respeito às leis, e os colonos viam na riqueza um bem ao olhos de Deus e não um pecado na visão medieval da inquisição. Imaginemos o território brasileiro se tivesse sido colonizado pelo Japão. Que potência não seria! Na mesma linha, os Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul, seriam hoje da mesma forma se tivessem sido colonizados por espanhóis e portugueses? Evidentemente que não, porque lhes faltavam as boas instituições.

Com inconcebível atraso no tempo, o Brasil começa agora a despontar no cenário internacional como potência econômica. Diríamos até que é uma promoção por antiguidade do que pelo mérito de suas instituições. A globalização da economia, aliada aos nossos enormes recursos naturais, têm tudo a ver com o milagre, um novo dínamo para impulsionar a economia mundial. Nesse sentido, continuaremos a crescer, mas não impedidos, infelizmente, de assistir as saturadas novelas protagonizadas pela velha corrupção. E enquanto não somos um país sério, se é que um dia o seremos, vamos nos contentar apenas espinafrar e maldizer a corrupção. Continuaremos a adotar a lei do Gerson, tirar vantagem em tudo como a eterna instituição nacional. Permaneceremos como os teóricos dos discursos floridos e atitudes corrompidas.

Enfim, enquanto não nos conscientizamos de que não devemos nos apropriar do alheio ou roubar por temor à lei, mas por uma convicção íntima da consciência que nos dita a não fazer, continuaremos a dar manchete à honestidade como uma raridade, enquanto no Japão ela continuará na placidez de uma velha virtude espontânea e corriqueira.