O ensino de costumes e tradições através da fala por ribeirinhos que residem em Piaçabuçu, município banhado pelo rio São Francisco em Alagoas, será projetado numa tela de cinema da capital paulista logo mais à noite. A cultura oral repassada de geração em geração ganhou registro audiovisual, o curta-metragem “Griô”, documentário dirigido por Gilçimar França e produzido pela Organização Não Governamental (ONG) Olha o Chico.
O filme com locações na cidade e em comunidades próximas da foz do “Velho Chico” foi selecionado entre todo os trabalhos que resultaram de oficinas audiovisuais de inclusão social realizadas no Brasil. Os vinte melhores documentários ou vídeo reportagens, todos com temas inéditos sobre cultura e transformação sociail, foram incluídos na Mostra Competitiva “Nós na Tela”, uma iniciativa do Ministério da Cultura, e serão exibidos na Sala BNDES da Cinemateca Brasileira, localizada na Vila Mariana, em São Paulo, com entrada franca.
“Griô” estreia nesta quarta, 20, em São Paulo
Os quinze minutos do curta “Griô” estreia às 20h00 desta quarta-feira, 20. O enredo do filme está resumido em seu título, palavra de origem francesa (griot) assimilada por nações africanas ocidentais. Griô é um contador de histórias, um tipo de detentor da cultural local que cuida de retransmitir o que ouviu de seus antepassados às próximas gerações. A cultura do beiradeiro, do povo ribeirinho, vai competir com trabalhos produzidos em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, Curitiba, Manaus, Lábrea (Amazonas), Limoeiro do Norte (Ceará) e Ilhéus (Bahia).
O melhor curta-metragem do “Nós da Tela” será premiado com R$ 20 mil, ficando o segundo com R$ 15 mil e o terceiro com R$ 5 mil. O júri da competição é formado pelos críticos cinematográficos Carlos Alberto Mattos, Daniel Caetano e Rodrigo Fonseca. Todos os trabalhos serão exibidos em rede de televisão (20 programas) vinculadas à Associação Brasileira de Canais Comunitários (ABCCom) e em outros canais do sistemas público e estatal de radiodifusão.
Olha o Chico nasceu da Associação Amigos de Piaçabuçu
“Griô” é mais um produto cultural que tem envolvimento direto da ONG Olha o Chico. Nascida a partir da fundação da Associação Amigos de Piaçabuçu, criada em 1999, a entidade passa por modificações, apostando na gestão compartilhada e ganhando projeção estadual e nacional com a marca Olha o Chico. Em menos de dez anos de atividade, a ONG tornou-se Ponto de Cultura, condição atestada pelo Ministério de Cultura em 2006 em função das atividades desenvolvidas, como Turismo de Base Comunitária e Ação Griô.
As duas iniciativas nortearam a formatação do projeto “Caminhos do São Francisco” – nome também utilizado em projeto do Sebrae, mas que foi registrado primeiro pela Olha o Chico -, trilhas que vão além do prazeroso lazer turístico e que promovem um contato direto entre o visitante e o nativo, reforçando laços de identidade, troca de conhecimento, heranças culturais e afeto.
Co-produção e trilha sonora em “Deus é Brasileiro”
Não é a toa que a Olha o Chico tornou-se referência em trabalhos de resgate cultural sobre hábitos e costumes do povo ribeirinho. O renomado cineasta alagoano Cacá Diegues reconheceu o valor dessa turma, convidada a atuar na co-produção feita em Piaçabuçu para o longa “Deus é Brasileiro”, estrelado por Antônio Fagundes, Paloma Duarte e Wagner Moura. A adaptação para o cinema do conto de João Ubaldo Ribeiro tem ainda em sua trilha sonora músicas do grupo Caçuá (outra vertente da Olha o Chico).
Atuando em parceria com outra ONG, a Canoa de Tolda – que tem base em Brejo Grande-SE e em Piaçabuçu-AL e é responsável pelo documentário Barra a Barra, que refaz o percurso numa canoa de tolda entre o litoral e o sertão pelo rio São Francisco – a Olha o Chico produziu a trila sonora do filme aprovado em edital do DocTV. Também em edital do DocTV, a ONG colaborou na produção do “Areias que Falam”, que retrata o cotidiano dos moradores do povoado Pixaim, situado nas dunas do Pontal do Peba, nas imediações da encontro do rio com o mar.
“Borboletas” e “Ilhas da Minha Vida” aprovados no Revelando Brasis
Ainda na sala escura das projeções cinematográficas, a ONG emplacou em 2006 o documentário “Borboletas”, citação relacionada ao formato de velas típicas de embarcações utilizadas na região do Baixo São Francisco. Dirigido por Dalva de Castro, o curta-metragem foi aprovado no edital “Revelando os Brasis” em 2005. Em 2010, Revelando Brasis contempla mais uma vez proposta da Olha o Chico, com a inclusão de “As Ilhas da Minha Vida”, documentário que vai contar a vida de Maria José Santos Dias, a Zezinha, nascida e criada em ilhas localizadas em meio ao “Velho Chico”.
O contato com comunidades situadas a centenas de quilômetros e, apesar da distância, aproximadas por traços culturais, gerou mais um trabalho da Olha o Chico, este incluído no Projeto Ação Griô Nacional. Por meio da artista Maria Linete Matias, a cultura popular tradicional encontrada em Piaçabuçu é analisada no “É de Tradição!”. O foco está nas semelhanças entre o Guerreiro alagoano e folguedos como Folia de Reis, Caboclinho, Boi e Congo, encontrados na cidade mineira de Santa Luzia, representada no projeto pelo Ponto de Cultura ART22.