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Política

Diretor do ONS descarta sabotagem como causa do apagão

Não existe a menor hipótese de o apagão de energia que atingiu 17 estados e o Distrito Federal no dia dez de novembro ter sido causado por sabotagem. A afirmação foi feita nesta quinta-feira (26) pelo diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o engenheiro elétrico Hermes Chipp.

Ele foi um dos convidados a participar de audiência pública realizada pelas comissões de Serviços de Infraestrutura (CI) e de Assuntos Econômicos (CAE) para discutir a interrupção no fornecimento de energia elétrica ocorrida no início do mês. O debate também teve como objetivo discutir a situação de sistema elétrico brasileiro, em especial nas áreas de geração, transmissão e gerenciamento, além da fiscalização dos investimentos no setor.

Em sua exposição, o diretor do ONS explicou que o relatório técnico sobre as causas do apagão – que está sendo elaborado por 70 técnicos – deverá ser concluído até o dia 4 de dezembro. Afirmou, entretanto, que já é possível garantir que o blecaute foi motivado por questões técnicas isoladas, nas linhas de distribuição da energia gerada na Usina de Itaipu, entre as cidades de Ivaiporã (PR) e Itaberá (SP), devido a três curtos-circuitos simultâneos, que geraram um efeito dominó em outros estados.

Disse ainda que são duas as prováveis causas do blecaute: descargas atmosféricas e/ou redução da efetividade dos isoladores submetidos às fortes chuvas e ventos. Chipp descartou, no entanto, qualquer tipo de comparação com os apagões de 1999 e 2002, ocorridos, segundo explicou, por falta de investimentos no setor elétrico, mas não garantiu que o sistema está livre de outras interrupções de energia como a ocorrida recentemente.

– Temos que identificar os problemas e criar medidas preventivas que os reduzam – afirmou Hermes.

Alertas

Para o físico e diretor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ), Luiz Pinguelli Rosa, apesar de o problema não ter sido causado por falta de investimentos, o governo não pode se isentar de responsabilidades.

– Há necessidade de se esclarecer o que aconteceu e reconhecer que temos vulnerabilidades que exigem atenção. Não podemos nos acomodar nessa situação – afirmou Pinguelli.

Para o físico, o blecaute ocorrido no início do mês é uma oportunidade para se chamar a atenção para o sistema brasileiro de energia elétrica, que precisa de aperfeiçoamentos, apesar dos altos investimentos feitos no setor.

No debate, o senador Eliseu Resende (DEM-MG) disse não haver dúvidas de que o apagão foi ocasionado por descargas elétricas, que provocaram um curto circuito. No entanto, ele observou que esse tipo de fenômeno pode ser frequente, sendo necessário que sejam adotadas “medidas efetivas” para evitá-lo.

Valdir Raupp (PMDB-RO) questionou os palestrantes sobre possíveis fragilidades no sistema brasileiro de distribuição, que é interligado e que teria contribuído para que o problema ocorresse em cadeia, ampliando a extensão do apagão. Para os especialistas, o sistema interligado é uma vantagem, porque permite potencializar o uso da energia gerada em cada usina. Eles, no entanto, enfatizaram a necessidade de se buscar possíveis falhas e melhorar os mecanismos de controle e monitoramento das redes de distribuição de energia.

Já o senador Roberto Cavalcanti (PRB-PB), após as explicações dos especialistas, afirmou que o sistema elétrico brasileiro apresenta alto nível de gestão. Opinião semelhante foi manifestada pelo senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), que disse não haver hoje no Brasil restrição de oferta de energia, problema que gerou o apagão de 2002, quando a população foi submetida a um racionamento obrigatório, sob pena de ficar sem energia elétrica.