O ciclo junino é aberto pelas celebrações a Santo Antônio, popularmente conhecido como 'santo casamenteiro'. As comemorações tiveram inicio no dia 1º de Junho e seguiram até este sábado, 13, na Igreja da colina do Santo Antônio, bairro tradicional de Aracaju. Durante treze noites, milhares de famílias visitam o local e participam de missas, apresentações e música. Este mês é marcado ainda pela devoção popular aos santos João e Pedro.
Localizada no bairro mais antigo de Aracaju, a colina de Santo Antônio guarda a história da capital e a devoção ao santo casamenteiro. O local recebe muitos turistas durante o ano inteiro por oferecer uma visão privilegiada da capital sergipana.
Dona Luzia, moradora antiga do bairro, sempre participa das festividades e há quatro anos monta uma barraca com produtos da paróquia para serem vendidos às pessoas que comparecem ao evento. São medalhinhas, terços e imagens do santo. Segundo ela, o movimento é grande durante todos os dias de celebração. “Muitas famílias vêm prestar sua homenagem. É uma festa muita bonita e de muita fé”, disse.
A cada noite, os fiéis podem receber a benção do Frei Jonaldo, pároco da Igreja, além de outros religiosos convidados das comunidades vizinhas. Para Isabela Almeida, contadora, a devoção aos santos é um sinal pra Deus. “É uma oportunidade que temos de, através da história deles, conhecermos a Jesus. É importante estar aqui prestando essa homenagem a Santo Antônio, que tem um papel tão especial na história da Igreja”, comenta.
Ivanira Lemos, 68, participa ativamente das festividades há 40 anos fazendo parte da equipe formada para cuidar da organização do evento. “O público tem aumentado e fico muito feliz em fazer parte dessa festa tão linda, cheia de amor e fé”, relata, acrescentando que muitas gerações de famílias se fazem presentes durante todo período de celebração, que conta ainda com quermesses e distribuição dos pães de Santo Antônio.
A trezena recebe ainda muitos solteiros, que aproveitam para pedir uma ajuda nas relações amorosas. Segundo Ivanira, muitos jovens participam das celebrações. “Vejo eles aqui rezando pra tentar arranjar um casamento. Pra mim o mais importante é que nunca percam a fé e continuem passando adiante essa tradição que é linda”, conta.
Altares
As homenagens ao Santo vão além das missas. Tradicionalmente, muitas famílias costumam montar altares em suas casas como forma de agradecimento pela graça alcançada. É um momento de reunião familiar e renovação da fé.
Nicelma de Jesus é natural da cidade de Itabaiana e veio morar em Aracaju há 15 anos. Desde a sua terra natal ela é devota de Santo Antônio, que também é padroeiro daquele município. “Quando cheguei aqui, resolvi continuar a minha devoção. Sempre peço muitas graças e tenho muita fé. Como forma de retribuição, monto um altar para ele na minha casa”, explica, enfatizando que escolheu morar próximo à colina do Santo Antônio.
A dona de casa mostra o espaço reservado ao altar ao lado da imagem de Santo Antônio, onde também presta homenagem a São João e São Pedro. O lugar ainda possui um livro de visitas, cantinho das promessas, pedidos de oração, além de água benta cedida pela igreja. “Frei Jonaldo sempre me deu apoio. Durante a trezena, ele faz questão de falar sobre esse altar e dizer aos fiéis que me façam uma visita. Várias pessoas, que por algum motivo não conseguem ir até a igreja, realizam as suas orações aqui mesmo. Fico muito feliz e realizada”, comenta.
Exposição
Ainda sobre as comemorações a Santo Antônio, uma exposição está sendo realizada no Centro de Cultura e Arte da Universidade Federal de Sergipe (Cultart/UFS), em Aracaju. O evento chamado “13 noites com Antônio”, traz o trabalho de artistas que apresentam altares em homenagem ao santo. Segundo o curador da exposição, o professor universitário Otávio Ferreira, o projeto está de volta depois de um ciclo anterior de 13 anos.
“Realizamos esse evento pela primeira vez entre 2001 e 2013. Agora estamos de volta e isso me deixa muito feliz. Cada altar é produzido por um artista diferente, que imprime a sua identidade dentro da proposta da exposição. Temos artesãos, representantes de sindicato, radialistas e outras instituições”, disse.
As obras são realizadas dentro da iconografia do santo, envolvendo a crendice popular e ensinamentos da igreja católica, e são compostas por peças do período colonial, arte barroca, decorações modernas além de origami. O evento é aberto ao público e recebe pessoas da comunidade, turistas, além de familiares dos expositores. Os visitantes podem contribuir com algumas instituições de caridade doando um quilo de alimento não perecível.
Além da exposição de arte sacra, momentos de oração e comidas típicas, foi lançado este ano o 1º Festival de Performance, no qual são apresentadas danças e outras manifestações. A exposição também oferece uma feira de artesanato com produtos que fazem parte da cultura de Sergipe como renda irlandesa, peças em madeira e artigos feitos com materiais recicláveis. A ideia é que os visitantes tenham contato com diferentes segmentos da cultura local.
Na última noite de exposição, que acontece neste sábado, o público poderá contar com a apresentação do grupo Reisado Baile Estrela, da cidade de Moita Bonita, região central do estado. Segundo os organizadores, essa é uma das noites mais freqüentadas, na qual ocorre uma maior arrecadação de alimentos.
