O agricultor José Luiz da Silva, 57 anos, trabalhou durante 14 anos no terreno localizado ao lado da pista do Aeroporto Freitas Melro, situado em Penedo. Ao longo desse tempo, ele manteve sua família com a renda da pequena roça. Nesta terça-feira, ele retirava o feijão de arranque, única cultura que poderá aproveitar até a próxima sexta-feira, 13, prazo final da desocupação da área por determinação da Justiça Federal.
No terreno com pouco mais de duas tarefas, José Luiz da Silva – mais conhecido como Crente, por causa de seu credo religioso – vai abandonar os plantios de milho, mandioca e batata doce, culturas ainda fora do tempo de colheita. “Eu já tirei duas ‘carroçadas’ com essa que o senhor está vendo, ainda ou tirar mais, sendo que uma parte eu vou vender e a outra vai ficar para minha família comer”, disse o agricultor que mora no bairro Santa Cecília (Matadouro) com a esposa e mãe. Os filhos, todos casados, já sobrevivem por conta própria.
Mandado de intimação e reintegração de posse
José Luiz da Silva é um dos 73 réus relacionados no mandado de intimação e reintegração de posse expedido pela juíza federal substituta Cíntia Menezes Brunetta, documento assinado em 31 de maio de 2010. “Eu recebi a ordem na minha casa, mas não tenho outro lugar para plantar, a gente tem que obedecer, os homens querem, a gente tem que sair”, lamentava o agricultor que salvava o que podia de sua roça. Ao longo do entorno da pista, outros ocupantes tomavam medidas semelhantes, como José Evangelista Santos, 20 anos.
Filho de agricultores, ele retirava estacas da cerca que separa a roça onde trabalhou desde criança. “Foi minha mãe que mandou tirar para usar no fogão a lenha lá de casa”, explicou o jovem. Do terreno onde havia feijão, restará apenas a lembrança da última safra, cinco ‘carroçadas”, todas já colhidas para consumo da família formada por oito pessoas. No terreno vizinho, o dono do canavial também corre contra o tempo. “Tem gente trabalhando aí desde sexta-feira”, disse José Evangelista.
Perda completa de patrimônio
Enquanto alguns colhem o que já está no tempo de se retirado da terra, lamentado o fim do meio de vida, outros se desesperam com a perda completa de um patrimônio. Maria Rosa Catum Moreira herdou do pai o gosto pelo trabalho na roça. No cabo da enxada, ela e o marido – já falecido – criaram os seis filhos, todos pequenos agricultores. Aos prantos, ela não se conforma com a ordem para abandonar as seis casas onde os filhos moram, imóveis situados dentro da área que a Aeronáutica está retomando para recuperar e reformar o aeroporto.
“Quando a gente começou a construir (meados de 1990), ninguém veio dizer que não podia, agora estão tomando tudo, as roças do povo, as casas da gente, tudo”, reclamou Rosa Catum que ainda espera reverter a situação na justiça, por meio de seu advogado. Ela afirma que também apelou ao ex-prefeito Alexandre Toledo e a Secretária de Assistência Social de Penedo, Elenice Saldanha. Como resposta, teria ouvido dos dois que nada podiam fazer.
Desamparados, agricultores e moradores do entorno do Aeroporto Freitas Melro aguardam apenas a chegada dos oficiais de justiça para cumprir a ordem de desocupação. “Quando vieram entregar o papel para gente, disseram que era para sair de qualquer jeito, senão passavam a máquina por cima”, disse revoltado um dos filhos de Rosa Catum para a reportagem.