“Alguns são cegos de nascença, outros perderam a visão no decorrer da vida, mas todos conseguem enxergar de uma outra forma, a ponto de ver além”, é com essas palavras que Adriana Chaluppe, artesã e monitora da Escola Estadual de Cegos Cyro Accioly, define seus aprendizes. Artesãos de mão cheia, os artistas alagoanos expuseram suas obras na manhã desta terça-feira (18), na Secretaria de Estado do Planejamento, Gestão e Patrimônio (Seplag). A atração, que encheu de cultura e saber o dia dos servidores da pasta, faz parte do calendário da Semana Interna do Servidor 2016.
De acordo com Chaluppe, o trabalho, além de otimizar a coordenação motora e propor uma forma de renda alternativa, tem o intuito de desenvolver a habilidade criativa dos estudantes.
“Eles têm uma habilidade manual muito grande. Ao passo que vão vendendo as obras, os artesãos vão comprando novos artigos e investindo em técnicas que sentem necessidade de aprender. É um ciclo produtivo e criativo muito amplo e que só tem rendido frutos positivos a todos”, explicou a monitora.
Para Chaluppe, o resultado das obras vai muito além do aspecto financeiro. A artesã conta que alguns de seus aprendizes sofrem de depressão e veem na arte a válvula de escape perfeita para os momentos de dificuldades.
“A partir da interação que a arte promove, do prestígio a cada venda realizada, a autoestima deles se eleva, e o ganho é muito maior. É um trabalho que os ajuda e que me ajuda muito como pessoa, eles são artistas que merecem ser reconhecidos e essa oportunidade de expor as obras na Seplag é muito importante, é uma forma de valorização”, explicou a artesã.
Marisa dos Santos, de 49 anos, perdeu a visão depois dos 20, e só então é que começou a estudar. Foi aí que a alagoana descobriu que podia ver através dos outros sentidos e que se apaixonou pelo artesanato, principalmente pelo macramê. É ao tecer dos fios que a artesã conhece mais sobre si mesma e sobre o mundo a sua volta.
“Hoje, eu enxergo muito mais do que quando tinha a visão, e o trabalho manual tem sido de grande ajuda nesse processo. A cada dia temos um novo aprendizado, a cada dia exploramos nossa criatividade”, afirmou.
Rinaldo dos Santos, de 46 anos, tem a arte como uma terapia. Uma forma de ocupar a cabeça contra as dificuldades impostas pelas limitações que a deficiência trouxe. Perfeccionista em suas obras, o alagoano afirma que a oportunidade de expor seus trabalhos é mais do que valorização. “É uma forma de mostrar à população que nós, deficientes visuais, podemos, que somos capazes”, completa o artesão.
João Felipe Rezende, colaborador da pasta, prestigiou o momento e ficou encantado com a habilidade e a criatividade demonstradas nas obras.
“Desde as esculturas, até os colares, é perceptível o cuidado manual que os artistas colocam em seus trabalhos. Poder entrar em contato com esse tipo de arte, cheia de vivência, no nosso ambiente de trabalho, é muito gratificante”, afirmou João Felipe.
Para o secretário do Planejamento e Gestão, Christian Teixeira, a exposição é uma forma de fazer com que os servidores encontrem novas realidades e, ao mesmo tempo, apreciem, em casa, a cultura alagoana.
“A Semana do Servidor tem um caráter muito cultural, e as obras dos artesãos da Escola de Cegos Cyro Accioly não poderiam deixar de ser apreciadas pela nossa pasta nesse momento. O dia foi de valorização, tanto para os servidores, como para os artesãos, e de sensibilização para a inclusão social e a acessibilidade no nosso Estado”, afirmou o titular da Seplag.