Ser nordestino é carregar na alma a força da ancestralidade e a criatividade de um povo que transforma desafios em arte, sabor e orgulho. E em Penedo, essa identidade se traduz no cuscuz de arroz — prato que ultrapassou gerações e, agora, é oficialmente reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial de Alagoas.
A iguaria, feita com arroz quebrado e leite de coco, é mais do que uma receita: é memória viva. Entre as famílias que mantêm essa tradição está a de Rodolfo Novais, chef e empreendedor que transformou a herança culinária da bisavó Pureza em um negócio de sucesso e em símbolo de resistência cultural. “Sou a quarta geração de uma família de fazedoras de cuscuz. Essa história começou com minha bisavó, e hoje sigo com o propósito de não deixar a tradição se perder”, afirma.
O cuscuz de arroz nasceu da criatividade popular. A partir do arroz quebrado, sem valor comercial, as famílias penedenses criaram uma refeição simples e saborosa, que se tornou símbolo de afeto e identidade. Rodolfo cresceu nesse ambiente, ajudando a mãe e as tias nas vendas da feira. “Quando criança, ajudava a moer o arroz e ganhava trocados para ir ao parque. Era um jeito bonito de viver e aprender o valor do trabalho”, recorda.
Foi apenas em 2016, quando decidiu juntar dinheiro para assistir às Olimpíadas no Rio de Janeiro, que o jovem percebeu o potencial do cuscuz como negócio. Incentivado pela mãe, começou a vender o prato em Maceió, batendo de porta em porta. O sucesso foi imediato. O sabor conquistou os clientes, e a tradição virou empresa. Nasceram então os empreendimentos A Carroça, em Maceió, e Vila Dão Pêdu, em Penedo, espaços que celebram o sabor e a história nordestina.
Com o tempo, Rodolfo buscou compreender ainda mais as raízes da receita. A pesquisa histórica deu origem a um projeto de lei que resultou no tombamento do cuscuz de arroz de Penedo como patrimônio cultural. O feito consolidou o prato como símbolo da culinária alagoana.
Feito com arroz “enxombrado” e moído artesanalmente, o cuscuz segue o mesmo processo utilizado pelas gerações anteriores. O toque especial vem do leite de coco fresco, que confere cremosidade e sabor. E embora mantenha a tradição, o chef inovou nos acompanhamentos: carne do sol, ovo frito, frango, parmesão e até versões doces fazem parte do cardápio. “Não vendemos apenas comida. Vendemos história, memória, emoção. Quem prova revive lembranças da infância e dos antepassados”, diz Rodolfo.
O reconhecimento do cuscuz de arroz como patrimônio foi celebrado por instituições locais, entre elas o Sebrae Alagoas, parceiro de Rodolfo desde os primeiros passos do negócio. “O cuscuz de arroz é mais do que um prato, é uma expressão viva da identidade penedense e da força da cultura nordestina”, destaca Pauline Reis, gerente regional do Sebrae em Penedo. Segundo ela, a tradição se transforma em motor de desenvolvimento. “A inovação também nasce da tradição. Esse reconhecimento fortalece o turismo, a gastronomia e a economia criativa da região.”
De geração em geração, o cuscuz de arroz de Penedo continua a contar histórias de fé, trabalho e amor pelo Nordeste. E nas mãos de Rodolfo Novais, a receita que começou em um moinho de arroz agora inspira novos empreendedores e reafirma: ser nordestino é resistir com sabor e orgulho.
Redação com Agência de Notícias Sebrae
